quarta-feira, janeiro 08, 2003

A importância das emoções
(por Simone Sotto Mayor)


Que importância têm as emoções? Somos realmente capazes de compreender o que sentimos todo o tempo? Bem, se não somos capazes ( e não somos mesmo), teríamos muito a ganhar, se aprendêssemos no cotidiano a estar mais em contato com as nossas emoções. Muitas vezes, por medo da dor que os nossos sentimentos possam nos causar, não fazemos isso.Negamos o que sentimos e ainda procuramos passar uma imagem para nós mesmos e para aqueles que nos cercam de que está tudo bem conosco e de que somos auto-suficientes.

Na verdade, as emoções são nossa forma própria e única de percebermos o mundo que nos cerca. Cada um de nós, portanto, é tudo aquilo que vivenciou, acumulando experiências pessoais que vão fazendo nossa história e traçando nosso desenvolvimento. Por isso, estar em contato com o que realmente sentimos nos possibilita compreender como somos e como reagimos ao mundo.
Ocorre que, como ninguém se sente totalmente seguro (cada um de nós se sente vulnerável de uma ou de outra forma), procuramos, desde cedo, ocultar nossa fragilidade de nós mesmos e dos outros. Assim, nos privamos de desfrutar de muito do que a vida nos oferece. Aceitando a própria vulnerabilidade, estaremos muito mais abertos e sensíveis às possibilidades que a vida nos oferece.

Isto vale tanto para nos entristecermos quanto para nos alegrarmos. É claro que é difícil suportar tal condição de abertura às emoções que a vida nos oferece. Por medo das dores que outros possam nos causar, nossa tendência é, logo após a infância, abandonarmos essa postura de abertura e adotarmos outra, defensiva.Pensamos estar assim nos protegendo por antecipação, antes de nos arriscarmos a deixar que os outros possam nos magoar.Os laços afetivos são apenas superficiais, por medo de abandono ou de rejeição. E, assim, vamos vivendo nossa “vidinha”.

Mas o que seria necessário para interromper este processo que tanto limita nossa existência? Uma espécie de crença básica em nossa força interior é fundamental de se adquirir. Algo que nos faça saber, a cada um de nós, que não abandonaremos nosso próprio eixo, aconteça lá o que nos acontecer. Podemos nos entristecer, nos exaltar ou até mesmo nos desesperar; mas é preciso que acreditemos em nossa capacidade de regeneração para que nossa fragilidade nos pareça aceitável, apenas parte de um todo maior. Aceitar nossa condição humana e não exigir que sejamos perfeitos ajuda bastante, pois só nos dando o direito de sermos nós mesmos (dentro da nossa melhor forma) nos afastaremos da sensação tão comum de que estamos “blefando” e de que, a qualquer momento, descobrirão nosso imperfeito eu e nos rejeitarão.

Se pararmos de tentar esconder nossa vulnerabilidade, nos permitiremos sentir a dor das experiências negativas (frustrações, perdas, etc.) e passaremos a aprender e amadurecer com elas. Vamos nos perceber nas experiências, tentar observar nossos erros e aprender com eles. Este é o processo que nos fortalece ao longo da vida a não repetir os mesmos equívocos. A negação da dor em nossas experiências, infelizmente, interrompe todo esse processo natural de aprendizado. Além disso, se a pessoa não conseguir vencer suas defesas, ela irá conduzir sua vida para onde suas defesas a conduzirem e não para onde seus verdadeiros sentimentos a conduziriam.

Para concluir, é preciso lembrar que a pessoa que é imune à tristeza também é imune à verdadeira alegria. Deixa então escapar a possibilidade de estabelecer uma relação mais vigorosa e intensa com o mundo, o que torna a vida mais desfrutável e prazerosa.


SIMONE SOTTO MAYOR é médica psiquiatra e psicanalista.
Texto extraído do jornal O Globo. Coluna “Em Questão”, Caderno: Jornal da Família. Não sei a data mas é do final do ano de 2002.

Su : Amei esse texto. Parabéns Simoninha!!! Quantas vezes eu tento passar isso ou lembrar algumas coisas escritas nele mas alguma situação chata deixa as coisas um tanto nubladaS? O importante é que esquecer mesmo delas, eu NUNCA esqueço.

SuNamastê
Xa Ta Zac Xa Ta Amac

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