sábado, fevereiro 25, 2012

Aborto e Alma - Sam Harris

Aborto e Alma


A refutação do dogma da presença da alma no momento da fecundação, comentada por Atyla Neto, sofre um golpe duro quando observados os fatos. O filósofo americano Sam Harris, escreve o seguinte em seu livro Carta a uma nação Cristã (Cia. Das Letras, 2008) sobre o processo conhecido como “quimera” e o dogma da alma:

“Mas vamos admitir, por enquanto, que cada embrião humano de três dais de idade tenha uma alma merecedora de nossa preocupação moral. Os embriões nesse estágio por vezes se dividem, tornando-se duas pessoas separadas (gêmeos idênticos). Será que nesse caso uma só alma se dividiu em duas? Por outro lado, às vezes dois embriões se fundem em um único indivíduo, chamado “quimera”. Talvez você, ou alguém que você conhece, tenha se desenvolvido dessa maneira. Não há dúvida de que em algum lugar, neste momento, há teólogos se esforçando para decidir o que acontece com a alma humana em um caso assim.”

sábado, fevereiro 18, 2012

A verdade sobre os “distúrbios” em Atenas:
Fonte: laclase.info
A verdade sobre os “distúrbios” em Atenas: o povo somente se defende da violência policial e institucional
13/02/2012
Por: Integrantes "Marcha a Atenas"
COMUNICADO DE INTEGRANTES DA MARCHA A ATENAS QUE ESTÃO ATUALMENTE NA GRECIA:

Os meios de comunicação internacionais noticiaram sobre a noite passada na Grécia. Falaram sobre o fogo, o caos e a violência. Falam das 100.000 pessoas reunidas na Praça Sintagma, mas não das 200.000 que realmente estavam no local, nem das 300.000 que não puderam chegar à praça, porque as ruas e o metrô foram bloqueados pela polícia.
Não falaram de como a polícia provocou o inicio dos tumultos que começou às 17h00min atirando gás lacrimogêneo, indiscriminadamente, por toda a Praça Sintagma, dispersando os manifestantes por todo o centro de Atenas, para que não perturbassem em frente ao parlamento.
A mídia falou de destruição indiscriminada, espalharam o boato de que a Biblioteca Nacional de Atenas estava em chamas. Falso. Queimaram bancos, cafeterias e lojas, franquias de indústrias multimilionárias que levaram a Grécia a esta situação.
Os meios de comunicação falam de jovens antissistema, mas não falam que também havia mulheres e idosos com suas máscaras anti- gás mostrando seu apoio durante horas, batendo ritmicamente nas fachadas dos bancos e multinacionais com mãos e pés, assobiando e gritando em apoio às primeiras linhas que resistiam aos obstáculos colocados pela policia, em ruas cheias de gás lacrimogêneo e fogos, aplaudindo quando viram as chamas no Alphabank e Eurobank.
Falam que a violência não vai resolver a situação da Grécia, mas não falam da Assembléia interbairros realizada na semana passada na Universidade de Pantios, não disseram que a ocupação da Universidade de Nomiki tinha como objetivo ser um lugar de troca e debate entre os diferentes movimentos gregos, não falam sobre os restaurantes livres e mercados de escambo que ocorrem semanalmente nos bairros.
O que a mídia não dirá, é que após a última expropriação massiva num supermercado, e a distribuição de alimentos em um bairro de trabalhadores em Salónica, os velhas diziam que não tinha chegado a tempo, que voltássemos a entrar, e ainda que pelo momento elas não entrem, sabem onde está seu povo.
O que não dirão é que enquanto caminhávamos por um bairro de trabalhadores, em uma pequena manifestação longe do centro, as pessoas olhavam para fora da sacada erguendo o punho, e a manifestação multiplicou sua afluência, as pessoas saiam de suas casas, se somavam, as anciãs apareciam nas sacadas aplaudindo, os idosos... Os idosos cantavam hinos antigos, eu não entendia nada, mas vocês não imaginam, não fazem ideia o que isso significava, e isso os meios de comunicação não dirão, mas nos dizemos.
Aqui, em Atenas, sabem que não estão sozinhos, que toda Europa continua no mesmo caminho, o que não sabem é que estamos fazendo algo para todos... Sim estamos fazendo algo para toda Europa. Não estamos vendo somente o presente da Grécia, estamos vendo nosso futuro, o futuro da Europa.

Data de Publicação: 17/2/2012 16:41:26


terça-feira, fevereiro 07, 2012

Não durmo, nem espero dormir. Nem na morte espero dormir.

FERNANDO PESSOA
( ÁLVARO DE CAMPOS )

Não durmo, nem espero dormir.
Nem na morte espero dormir.
Espera-me uma insônia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.

Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite —
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!

Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!

Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.

Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.

Estou escrevendo versos realmente simpáticos —
Versos a dizer que não tenho nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos...
Tantos versos...
E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!

Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstração de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê... Não durmo. Não durmo. Não durmo.
Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo exceto no poder dormir!

Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperança,
Segundo a velha literatura das sensações.

Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
O meu cansaço entra pelo colchão dentro.
Doem-me as costas de não estar deitado de lado.
Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado.

Vem, madrugada, chega! Que horas são? Não sei.
Não tenho energia para estender uma mão para o relógio,
Não tenho energia para nada, para mais nada...
Só para estes versos, escritos no dia seguinte.
Sim, escritos no dia seguinte.
Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.

Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a Natureza.
A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exatamente.
A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras.
Costuma dizer-se isto.
A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.
Exatamente. Mas não durmo