sábado, dezembro 27, 2008

Apelo

(Dalton Trevisan)

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.

Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.

Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.



Resposta

(Rita Apoena)

As meias, senhor, as meias eu vou ensinar como se costuram.
Primeiro, é preciso alinhavar o tempo. Achar a ponta mais longe e desfazer os embaraços, partindo do fim para o começo. E eu já estava no ônibus quando hesitei, quando desci no primeiro ponto que a agulha desfez entre nós. Subi as escadas em caracol, tentando cerzir a nossa fazenda, já estampada de flores tão murchas e, por mais um instante, voltei para casa, senhor. Olhei a casa, senhor. Uma camisa jogada no chão, com os braços abertos, à espera de um abraço. O meu apelo em cada canto do quarto. O batom, o vestido. A meia encolhida, sem par. A rede pendurando, solitária, um sorriso na varanda. À espera de um outro sorriso, talvez. O sorriso, na borda da xícara, o senhor esqueceu. A alça sem os laços do seu dedo. Minhas mãos na cintura. À espera dos seus braços, senhor. Nós dois rodopiando pela sala, em voltas e voltas que a cera apagou. E que devem ser as voltas dessa agulha. Da agulha que lhe ensina a costurar um tecido ferido, senhor.

Depois, é preciso desatar as linhas. As linhas que o senhor me escreveu nessa carta. E me trouxe a essa casa, um mês depois. Então, era isso, senhor? O leite coalhado. As teias de aranha costurando as fendas no teto. O saca-rolha perdido. A meia furada. A camisa sem botão... O botão sem a casa. A casa. A casa. A casa? O prato na parede. O jarro na parede. A estátua na parede. O relógio tremendo no chão. O ponteiro no cinco. O ponteiro no cinco. O ponteiro no cinco. Uma camisa com os braços rasgados. O retrato em duas partes. Um grito alto. As mãos no colo, em abandono. Ouve agora o meu apelo, senhor?

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Su: Ser é mais do q se pode fazer. O implícito não consegue guardar o jornal... é olhar nos olhos e sentir alguma coisa boa pelo q o outro é... Não é nem a ilusão do entendimento. As palavras são muito úteis pra separar uma cadeira do chão mas sempre será revelada sua aleatoriedade quando se tratar de sentimento!! Ainda sim, se só com elas se conseguir satisfazer a descrição do q é bom, então deixo longe o olhar, vou embora com ele...

fonte: http://ritaapoena.zip.net/

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Anúncio para solitários


Foto: Rita Apoena

Procura-se um amigo sozinho
de andar discreto e gesto silencioso.
Procura-se desesperadamente um amigo
que saiba se aproximar
de um passarinho.


Su: não me identifico mas achei bonitinho!!



Acerca del Viaje


Ilustração de Pablo Gamba, querido, querido, querido!

Donde quiera que el ómnibus me lleve
el sol acompaña mi rostro a través de la ventana
como un barrilete!
amarrado por la esperanza.


Su: Lindíssimo!!

fonte: http://ritaapoena.zip.net/

terça-feira, dezembro 23, 2008

Alguns blogs de tirinhas:
Bichinhos de Jardim - http://www.bichinhosdejardim.com/
Bosta Azeda Corporation - http://www.bostaazeda.com/
Dr. Pepper - http://blog.drpepper.com.br/


Concurso de tirinhas: http://www.estadao.com.br/tirinhas/

sábado, novembro 29, 2008

Boi voador não pode
Chico Buarque

Quem foi, quem foi que falou do boi voador
Manda prender esse boi
Seja esse boi o que for
Quem foi, quem foi que falou do boi voador
Manda prender esse boi
Seja esse boi o que for

O boi ainda dá bode
Qual é a do boi que revoa
Boi realmente não pode voar à toa

É fora, é fora, é fora
É fora da lei, é fora do ar
É fora, é fora, é fora
Segura esse boi
Proibido voar


Su: hahaha mt engraçado!!
"Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde"

(Trocando em miúdos - Chico Buarque)
Bom conselho
Chico Buarque

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar


Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade


Su: "Bom conselho" é diferente de "conselho bom". Nessa jogada com os dizeres populares ele interpreta por uma via política sendo que esta sempre visa disseminar o confortável conformismo. Isso correponde mt aos sujeitos q querem ser menos responsáveis pelas suas escolhas e fazer o certo sem saber como acertar.

São tantas as dores q não passam se nada for feito! As vezes o mais desolador é dar o primeiro passo, sem chance nenhuma d ver no q vai dar. Morrer no meio (e isso sendo otimista porque meio só se estabelece quando vc sabe onde é o fim) esperando q um dia as coisas sejam diferentes. E se existir vida após a morte, contrinuar torcendo! E se existir reencarnação, mesmo esquecendo o q fez, continuar a fazer...

Tentar é preciso. Não apaga o fogo q pode machucar pois queimar-se é parte do intento. Agir é indispensável e quando for urgente, no momento mais importante não podem faltar palavras.
Ter uma vida calma é melhor do que ter uma vida boa? As tempestades são para serem colhidas! Não com a tristeza de um inconseqüente que algo perde, mas com a satisfação de quem tenta transformar! Essa é a beleza do fogo que queima e muda! O incontenível fogo q só existe enquanto transformador!
Beber a tempestade, assumi-la como prazerosa, é começar a matar a sede de mudança antes q o tédio das mesmas políticas q NÓS reproduzimos (mas preferimos delegá-las a um sistema superior e opressor) continuem a deixar todos os nossos dias iguais!!


(obs.: Se o Maurílio não tivesse me mandado um e-mail com essa música não teria entrado nessa onda toda de Chico! Rs*)
As atrizes
Chico Buarque

Naturalmente
ela sorria
Mas não me dava trela
Trocava a roupa
Na minha frente
E ia bailar sem mais aquela
Escolhia qualquer um
Lançava olhares
Debaixo do meu nariz
Dançava colada
Em novos pares
Com um pé atrás
Com um pé a fim

Surgiram outras
Naturalmente
Sem nem olhar a minha cara
Tomavam banho
Na minha frente
Para sair com outro cara

Porém nunca me importei
Com tais amantes
Os meus olhos infantis
Só cuidavam delas

Corpos errantes
Peitinhos assaz
Bundinhas assim

Com tantos filmes
Na minha mente
É natural que toda atriz
Presentemente represente
Muito para mim


Su: Mt engraçado!! Adoro o jogo semântico dos dois último versos!!
Veneta
Chico Buarque

Como num conto de fada
Ou como alguém rolando a escada

Vou pra civilização
Cabeleira incendiada
No barranco, na boléia
Uma candeia em cada mão
Eu quero um amor de primavera
Procuro letreiro de néon
Pretendo zoar a noite inteira
Preciso encontrar um homem bom
Que me deixe louca a chorar pitangas no breu
Que me beije a boca na laje do arranha-céu

E se a vida tomar jeito
Vou andar no parapeito

Com vestido de lamê
Ou sentar na esquina da fome
Da guimba, do desdém
Da gangue da Praça da Sé
Eu quero um amor de primavera
Procuro letreiro de néon
Pretendo zoar a noite inteira
Preciso encontrar um homem bom
Que estenda um tapete vermelho e me beije a mão
Que me arranque a roupa no meio da multidão


Su: chorar as pitangas no breu. Porque nada vai ser como nos contos de fadas. É mais fácil rolar as escadas. Não q os contos sejam o meu ideal mas expressam algumas coisas q pareciam boas e não tão improváveis. Q me faça chorar as pitangas então vem mais com um sentido de q me faça sentir muito, gostar demais já q chorar é inevitável. Não existe "feliz" pra sempre. Existe "feliz" várias vezes. Q esse homem seja bom.
Gota D´água
Chico Buarque

Já lhe dei meu corpo
Minha alegria
Já estanquei meu sangue
Quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor...

Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água...(2x)

sexta-feira, novembro 28, 2008

Samba e Amor
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã

Escuto a correria da cidade que arde
E apressa o dia de amanhã
De madrugada a gente 'inda se ama
E a fábrica começa a buzinar
O trânsito contorna, a nossa cama reclama
Do nosso eterno espreguiçar
No colo da bem vinda companheira
No corpo do bendito violão

Eu faço samba e amor a noite inteira
Não tenho a quem prestar satisfação


Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer

Escuto a correria da cidade. Que alarde!
Será que é tão difícil amanhecer?
Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã

Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã.

Su: me identifico!
Um homem que fala e não faz
é como um jardim cheio de ervas daninhas
e quando as ervas começam a crescer
é como um jardim cheio de neve
e quando a neve começa a cair é como um pássaro na parede
e quando o pássaro finalmente voa
é como uma águia no céu
e quando o céu começa a trovejar é como um leão a porta
e quando a porta começa a ceder
é como uma punhalada nas suas costas
e quando sua costas começam a doer
é como uma faca no seu coração
e quando seu coração começar a sangrar
você esta morto
e morto.

[...]

Su: minha irmã me passou! Segue a dúvida: quem escreveu isso?

segunda-feira, novembro 17, 2008

Oh, once in your life
you find someone,who wil turn your world around
pick you up when your feeling down
Now, nothing can change what you mean to me
...
Through the good times
And the bad
I'll be standing there by you


(Heaven (slow) - Dj Sammy)

domingo, novembro 16, 2008

Mulher Sempre Mulher
(Antonio Carlos Jobim / Vinicius De Moraes)
Intérprete: Maria Bethânia

Mulher, ai, ai, mulher
Sempre mulher
Dê no que der
Você me abraça, me beija, me xinga
Me bota mandinga
Depois faz a briga
Só pra ver quebrar
Mulher, seja leal
Você bota muita banca
Infelizmente eu não sou jornal


Mulher, martírio meu
O nosso amor
Deu no que deu
E sendo assim, não insista
Desista, vá fazendo a pista
Chore um bocadinho
E se esqueça de mim
E se esqueça de mim

Su: Mt engraçado!! Ela cantando parece o dia mais animado do mundo!!


Samba da benção
(Vinícius de Moraes)


É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba, não

Fazer samba não é contar piada
Quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não
...

Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração


Su: pra mim a crítica era dispensável mas o resto da música é ótima!!

segunda-feira, outubro 27, 2008

" Neste ponto creio que estamos diante de um risco, sempre presente no ser humano, um risco demasiadamente humano, como diria Lacan: sempre preferimos desfazer-nos de determinada coisa, idéia, modo de agir ou o que seja que comece a falhar em seu êxito, a ter que reconhecer que o fracasso em questão atesta, na verdade, uma falha nossa. Jogamos, como se diz, a criança com a água do banho” para não ter que reconhecer uma falha. Criamos, então, rapidamente a idéia de que esta coisa “já era”, já não importa mais, não existe mais, é página virada, questão ultrapassada. O trabalho de atravessar a falha, que começa por reconhecê-la mas exige muito mais, exige que cada um se veja nela, na falha, se faça o equivalente dela, para, por dentro dela, ir além dela, é muito penoso e preferimos adotar logo outro “modelo”, quando seria bem mais corajoso e eficaz transformar nosso modo de agir de modo a realizar melhor uma proposta, ao invés de destroná-la e colocar outra no lugar. O destino desta nova proposta, a mantermos nossas viseiras, será evidentemente o mesmo da primeira, e pularemos de “galho em galho”, de ideal em ideal, para não perdermos as ilusões dos modelos ideais."



Su: e olha que o texto nem fala "disso"! Ele se chama "A Rede de Atenção na Saúde Mental - articulação entre CAPS e Ambulatórios" por Luciano Elia. * Muito elucidativo!! Sempre acho q é outra lucidez q temos quando a gente sabe algo, depois lemos isso que supostamente já sabíamos e ainda lembramos: alguém escreveu isso!!

*II. O CAPS e o Ambulatório

sexta-feira, outubro 24, 2008

Espere por mim, morena
Gonzaguinha

Espere por mim, morena,
Espere que eu chego já
O amor por você morena
Faz a saudade me apressar.

Espere por mim, morena,
Espere que eu chego já
O amor por você, morena,
Faz a saudade me apressar.

Tire um sono na rede
Deixa a porta encostada
Que o vento da madrugada
Já me leva pra você.

E antes de acontecer o Sol
A barra vir quebrar
Estarei nos teus braços
Para nunca mais voar.

E nas noites de frio
Serei o teu cobertor,
Quentarei o teu corpo
Com meu calor

Ah, minha santa, te juro
Por Deus Nosso Senhor,
Nunca mais, minha morena,
Vou fugir do teu amor.

Espere por mim, morena,
Espere que eu chego já
O amor por você, morena,
Faz a saudade me apressar.

Espere por mim, morena,
Espere que eu chego já
O amor por você, morena...

Su:
João do Amor Divino
Gonzaguinha

39 anos de batalha, sem descanso, na vida
19 anos, trapos juntos, com a mesma rapariga
9 bocas de criança para encher de comida
Mais de mil pingentes na família para dar guarida
Muita noite sem dormir na fila do INPS

Muita xepa sobre a mesa, coisa que já não estarrece
Todo dia um palhaço dizendo que Deus dos pobres nunca esquece
E um bilhete mal escrito
Que causou um certo interesse

É que meu nome é
João do Amor Divino de Santana e Jesus
Já carreguei, num guento mais,
O peso dessa minha cruz
Sentado lá no alto do edifício
Ele lembrou do seu menor
Chorou e, mesmo assim, achou que
O suicídio ainda era o melhor

E o povo lá embaixo olhando o seu relógio
Exigia e cobrava a sua decisão
Saltou sem se benzer por entre aplausos e emoção
Desceu os 7 andares num silêncio de quem já morreu
Bateu no calçadão e de repente
Ele se mexeu

Sorriu e o aplauso em volta muito mais cresceu
João se levantou e recolheu a grana que a platéia deu

Agora ri da multidão executiva quando grita:
"Pula e morre, seu otário"
Pois como tantos outros brasileiros
É profissional de suicídio
E defende muito bem o seu salário

Su: excelente! Gonzaquinha não veio ao mundo a passeio! Queria dar essa volta...

quarta-feira, outubro 22, 2008

É o Que Me Interessa

Lenine

Composição: Indisponível

Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
Quem vai virar o jogo e transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado só de quem me interessa

Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o teu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurre em meu ouvido
Só o que me interessa

A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa

Cuida de Mim

O Teatro Mágico

Composição: Fernando Anitelli

Pra falar verdade, às vezes minto
Tentando ser metade do inteiro que eu sinto
Pra dizer as vezes que às vezes não digo
Sou capaz de fazer da minha briga meu abrigo
Tanto faz não satisfaz o que preciso
Além do mais, quem busca nunca é indeciso
Eu busquei quem sou;
Você, pra mim, mostrou
Que eu não sou sozinho nesse mundo.

Cuida de mim enquanto não esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo, enquanto finjo, enquanto fujo.

Basta as penas que eu mesmo sinto de mim
Junto todas, crio asas, viro querubim
Sou da cor, do tom, sabor e som que quiser ouvir
Sou calor, clarão e escuridão que te faz dormir
Quero mais, quero a paz que me prometeu
Volto atrás, se voltar atrás assim como eu.

Busquei quem sou
Você, pra mim, mostrou
Que eu não sou sozinho nesse mundo.

Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo, enquanto fujo, enquanto finjo
Sonho de uma Flauta
(Teatro Mágico)

Nem toda palavra é
Aquilo que o dicionário diz
Nem todo pedaço de pedra
Se parece com tijolo ou com pedra de giz

Avião parece passarinho
Que não sabe bater asa
Passarinho voando longe
Parece borboleta que fugiu de casa

Borboleta parece flor
Que o vento tirou pra dançar
Flor parece a gente
Pois somos semente do que ainda virá

A gente parece formiga
Lá de cima do avião
O céu parece um chão de areia
Parece descanso pra minha oração

A nuvem parece fumaça
Tem gente que acha que ela é algodão
Algodão as vezes é doce
Mas as vezes é doce não

Sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
E o dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar
Ah e o mundo é perfeito
Hum e o mundo é perfeito
E o mundo é perfeito

Eu não pareço meu pai
Nem pareço com meu irmão
Sei que toda mãe é santa
Mas a incerteza traz inspiração

Tem beijo que parece mordida
Tem mordida que parece carinho
Tem carinho que parece briga
Tem briga que aparece pra trazer sorriso

Tem sorriso que parece choro
Tem choro que é por alegria
Tem dia que parece noite
E a tristeza parece poesia

Tem motivo pra viver de novo
Tem o novo que quer ter motivo
Tem aquele que parece feio
Mas o coração nos diz que é o mais bonito

Descobrir o verdadeiro sentido das coisas
É querer saber demais
Querer saber demais

Sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
E o dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar
Mas o sonho
Sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
E o dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar
Ah e o mundo é perfeito
Mas o mundo é perfeito
O mundo é perfeito...

segunda-feira, outubro 20, 2008

Infinita Highway
(Engenheiros do Hawaii)


Você me faz correr demais
Os riscos desta highway
Você me faz correr atrás
Do horizonte desta highway
Ninguém por perto, silêncio no deserto,
Deserta highway
Estamos sós e nenhum de nós
Sabe exatamente onde vai parar

Mas não precisamos saber pra onde vamos
Nós só precisamos ir
Não queremos ter o que não temos
Nós só queremos viver
Sem motivos nem objetivos
Estamos vivos e isto é tudo
É sobretudo a lei
Dessa infinita highway

Quando eu vivia e morria na cidade
Eu não tinha nada, nada a temer
Mas eu tinha medo, medo desta estrada
Olhe só! Veja você
Quando eu vivia e morria na cidade
Eu tinha de tudo, tudo ao meu redor
Mas tudo que eu sentia era que algo me faltava
E, à noite, eu acordava banhado em suor

Não queremos lembrar o que esquecemos
Nós só queremos viver
Não queremos aprender o que já sabemos
Não queremos nem saber
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e é só
Só obedecemos a lei
Da infinita highway

Escute garota, o vento canta uma canção
Dessas que a gente nunca canta sem razão
Me diga, garota: "Será a estrada uma prisão?"
Eu acho que sim, você finge que não
Mas nem por isso ficaremos parados
Com a cabeça nas nuvens e os pés no chão
Tudo bem, garota, não adianta mesmo ser livre
Se tanta gente vive sem ter como viver

Estamos sós e nenhum de nós
Sabe onde quer chegar
Estamos vivos sem motivos
Mas que motivos temos pra estar?
Atrás de palavras escondidas
Nas entrelinhas do horizonte
Desta highway
(?) Silenciosa highway

"Eu vejo um horizonte trêmulo
Tenho os olhos úmidos"
"Eu posso estar completamente enganado
Posso estar correndo pro lado errado"
Mas "A dúvida é o preço da pureza"
É inútil ter certeza
Eu vejo as placas dizendo "Não corra"
"Não morra", "Não fume"
"Eu vejo as placas cortando o horizonte
Elas parecem facas de dois gumes"

Minha vida é tao confusa quanto a América Central
Por isso não me acuse de ser irracional
Escute garota, façamos um trato:
"Você desliga o telefone se eu ficar
muito abstrato"

Eu posso ser um Bealte
Um beatnik, ou um bitolado
Mas eu não sou ator
Eu não tô à toa do teu lado
Por isso garota façamos um pacto:
"Não usar a highway pra causar impacto"

Cento e dez
Cento e vinte
Cento e sessenta
Só pra ver até quando
O motor aguenta
Na boca, em vez de um beijo,
Um chiclet de menta
E a sombra de um sorriso que eu deixei
Numa das curvas da highway

Su: Porque a música não está acabada depois de pronta. Ela muda conforme
vc se aprofunda nela!!

sábado, outubro 04, 2008

Nobre Vagabundo
(composição: Márcio Mello)
Daniela Mercury

Quanto tempo tenho
Pra matar essa saudade
Meu bem o ciúme
É pura vaidade
Se tu foges o tempo
Logo traz ansiedade
Respirar o amor
Aspirando liberdade


Tenho a vida doida
Encabeço o mundo
Sou ariano torto
Vivo de amor profundo
Sou perecível ao tempo
Vivo por um segundo
Perdoa meu amor
Esse nobre vagabundo
"Sonha demais e não vive
Pensa demais e não fala
Guarda demais e não cabe
Sofre demais e não grita

Ama demais e não dorme
Chora demais e não muda
Acha demais e não sabe
Muda demais e não gosta

Sorri de menos e assusta
Tão injusta
Precisa abrir a janela
A vida é colorida e bela

Anda demais e não para
Corre demais e não chega
Sente demais e não ama
Gosta demais e não deixa

Doa demais e não pede
Luta demais e não ganha
Troca demais e não serve
Dorme demais e não sonha

Sorri de menos e assusta
Tão injusta
Precisa abrir a janela
A vida é colorida e bela"

domingo, setembro 21, 2008

"Porque eu sou feita pro amor da cabeça aos pés
E não faço outra coisa do que me doar
Se causei alguma dor não foi por querer"

Rosas - Ana Carolina
(Totonho Villeroy)
"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."

Ainda nâo vi "Ensaio sobre a cegueira" de José Saramago.

Link para refletir sobre suas obras: http://www.geocities.com/ail_br/entreovereoolhar.html

domingo, setembro 14, 2008

O Meu Olhar
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

Alberto Caeiro(heterônimo de Pessoa)
Escolha

Apesar do medo
escolho a ousadia.
Ao conforto das algemas, prefiro
a dura liberdade.
Vôo com meu par de asas tortas,
sem o tédio da comprovação.

Opto pela loucura, como um grão
de realidade:
meu ímpeto explode o ponto,
arqueia a linha, traça contornos
para os romper.


Desculpem, mas devo dizer:
eu
quero o delírio.

Lya Luft
(...)
Jovens bonitos são acidentes da natureza:
Velhos bonitos são obras de arte.
(...)

Fabiano Lustosa
Eu aprendi...
...que ignorar os fatos não os altera;

Eu aprendi...
...que quando você planeja se nivelar com alguém, apenas esta permitindo que essa pessoa continue a magoar você;

Eu aprendi...
...que o AMOR, e não o TEMPO, é que cura todas as feridas;

Eu aprendi...
...que ninguém é perfeito até que você se apaixone por essa pessoa;

Eu aprendi...
...que a vida é dura, mas eu sou mais ainda;

Eu aprendi...
...que as oportunidades nunca são perdidas; alguém vai aproveitar as que você perdeu.

Eu aprendi...
...que quando o ancoradouro se torna amargo a felicidade vai aportar em outro lugar;

Eu aprendi...
...que não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito;

Eu aprendi...
...que todos querem viver no topo da montanha, mas toda felicidade e crescimento ocorre quando você esta escalando-a;

Eu aprendi...
...que quanto menos tempo tenho, mais coisas consigo fazer.

William Shakespeare

domingo, setembro 07, 2008

Viva la Vida
Coldplay

I used to rule the world
Seas would rise when I gave the word
Now in the morning I sweep alone
Sweep the streets I used to own

I used to roll the dice
Feel the fear in my enemy's eyes
Listen as the crowd would sing:
"Now the old king is dead! Long live the king!"

One minute I held the key
Next the walls were closed on me
And I discovered that my castles stand
Upon pillars of salt, pillars of sand


I hear Jerusalem bells are ringing
Roman Cavalry choirs are singing
Be my mirror my sword and shield
My missionaries in a foreign field
For some reason I can not explain
Once you know there was never, never an honest word
That was when I ruled the world


(Ohhh)
It was the wicked and wild wind
Blew down the doors to let me in.

Shattered windows and the sound of drums
People could not believe what I'd become

Revolutionaries Wait
For my head on a silver plate
Just a puppet on a lonely string
Oh who would ever want to be king?

I hear Jerusalem bells are ringing
Roman Cavalry choirs are singing
Be my mirror my sword and shield
My missionaries in a foreign field
For some reason I can not explain
I know Saint Peter will call my name
Never an honest word
And that was when I ruled the world

(Ohhhhh Ohhh Ohhh)

Hear Jerusalem bells are ringings
Roman Cavalry choirs are singing
Be my mirror my sword and shield
My missionaries in a foreign field
For some reason I can not explain
I know Saint Peter will call my name
Never an honest word
But that was when I ruled the world
Oooooh Oooooh Oooooh"

Su: essa vai pra mi!

domingo, agosto 24, 2008

"A essência do brincar não é um 'fazer como se', mas um 'fazer sempre de novo', transformação da experiência mais comovente em hábito. (Benjamim, 2002, p.101-102)"

"As crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade. (Mário Quintana, porta giratória)"

"A solidariedade é tão frágil quanto o verniz da civilização, 'cada um por si, Deus, por todos'."

"As crianças brincam com o interdito (...). A brincadeira parece só ter espaço para se estabelecer porque o mundo está literalmente na desordem, no caos. (...) aquilo que barraria a barbárie, ou seja, a interdição, não se instalou; por isso, resta às crianças trazer de volta à cena o impedimento, a privação."

livro: imagens do desaprender, de Adriana Fresquet (organizadora)

segunda-feira, agosto 11, 2008

"As memórias são como pássaros em vôo. Vão para onde querem. E podemos chamá-las que elas não vêm. Só vêm quando querem. Moram em nós, mas não nos pertencem."
Rubem Alves - em O velho que acordou menino.



"O medo é o que nos faz persistir. Já pensaste o que seria se não houvesse a falta, a ausência, que nos faz persistir em procurar? Seria o tédio avassalador a tomar conta de nós. A falta não é uma insuficiência, um defeito a que estaríamos condenados, ao qual nós próprios nos condenássemos. A falta é o que nos faz continuar. E o mais importante é aprender, o mais lindo. E a ignorância é a condição de aprender. Não saber e querer saber. É a minha contradição, o que completa o meu destino. (…) O que nos faz falta não é isto nem aquilo que sabemos o que é. O que nos faz falta é o amor que não se sabe. Estranha é a nossa condição, a vida que nos acompanha e que, de repente, nos deixa. Nem no fim saberemos o que fomos. O princípio é traiçoeiro. O fim jamais acontecerá. E quanto mais amamos menos sabemos da palavra amor, o que nos faz falta. Sentimos o que faz falta, o que é outra coisa. No amor, tudo nos faz falta. Tentar dizer o que é o amor, a ausência de nós, é como tentar dizer a um que não vê, qual é a cor do mar. Insistimos em saber. Devíamos desistir. Sabe-se lá do amor. E sem ele nada há. Tudo preenche, tudo ocupa, os lugares mais secretos, onde já nada esperávamos encontrar. Sim, sobretudo aí. É urgente aprender a sentir a falta que nos faz."
Pedro Paixão, in "Os Corações Também Se Gastam"



(...) E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual a perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu (...)
(...) Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolo sem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar (...)
Caio F.

Su:
Pra mim é como uma morte. E o que restou existindo é alucinação. Entre PareceR e Ser há um abismo! Por quanto tempo se consegue ignorar um abismo sem transformá-lo num oceano? A sorte é q a minha perda foi completa: quem eu amei não existe. Ai daquele q se perder pela metade!

(Estava falando isso ontem com Rafaella!! Mt bom o texto!!)

fonte: Literatus
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(“Vem, amor... Me dá um beijo e me arranha as costas, que hoje eu quero sentir o gosto da felicidade." - in Coisas de Amor Largadas na Noite, E. Almeida)
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Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

(Ricardo Reis)


Ó subalimentados do sonho!
A poesia é para comer!

(Natália Correia)


fonte: ki

Ser "bonzinho" é, pelo menos, enquanto for bom pra mim ... :0)


Os amores de Freud
Na adolescência, o criador da psicanálise enamora-se durante uma viagem; aos 26 anos encontra em Martha a paixão – e a transferência.


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Em 1872, Sigismund está com 16 anos, é aluno brilhante e adorado pela família. Nas férias, aceita o convite dos Fluss para ir a Freiberg, sua cidade natal.
É a primeira vez que retorna ao lugar de infância, depois de sua família ter mudado para Leipzig em 1859 e para Viena no ano seguinte. Na viagem, ele se apaixona perdidamente por uma moça de 14 anos, irmã de Emil Fluss, seu amigo de infância. A história está registrada em uma carta escrita por ele a Eduard Silberstein, em 17 de agosto de 1872:
Só quero dizer que sinto uma inclinação pela primogênita, Gisela, que parte amanhã, ausência que me dará uma segurança no comportamento que até então não conheci. Vossa graça, conhecendo meu peculiar caráter, imaginará, com razão, que, em vez de me aproximar, distanciei-me dela.
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(imagem: EM CARTA À NOIVA de 5 de outubro de 1883, Freud desenha sua sala no Hospital Geral de Viena.)
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Freud descreveu sua paixão ao confidente e não à amada: é dela que fala, mas não para ela. No artigo Lembranças encobridoras (1899), evocando esse amor de adolescente, ele o atribuirá a um paciente anônimo:

Eu tinha 17 anos, a filha de meus anfitriões tinha 15 e eu logo me apaixonei. Era a primeira vez que meu coração se inflamava de maneira tão intensa, mas guardei segredo sobre esse amor. Poucos dias depois, terminadas as férias, a jovem retornou ao seu colégio, e a separação, depois de um encontro tão breve, só fez exasperar minha nostalgia.

Na “confissão” a Silberstein, Freud disse estar loucamente apaixonado por Gisela, mas sua chama dirige-se rapidamente para Eleanora Fluss, a mãe da moça. Ele estremecia ao ouvir sua voz e quando se refere a ela não poupa elogios:

Mas afasto-me do assunto que muito me interessa: parece que eu transferi à filha, sob forma de amizade, o respeito que me inspira a mãe. (...) Admiro imensamente essa mulher, como nenhum de seus filhos consegue igualar. (...) Ela leu muito (...) e aquilo que não leu, ouviu falar, e tem suas próprias opiniões a respeito. (...) Conhece inclusive a política, participa dos assuntos do pequeno burgo e creio que é ela quem bafeja um espírito moderno pela casa. (...) Bela, nunca foi, mas uma chama espiritual, uma luz ousada certamente sempre jorrou de seus olhos, como ainda hoje. (...) Devia ver como educou e educa seus sete filhos. (...) Nunca antes eu havia conhecido tamanha superioridade. Outras mães – e por que negar que as nossas estão entre elas? Não as amamos menos por isso – ocupam-se apenas do bem-estar físico de seus filhos e não têm nenhum poder sobre seu crescimento intelectual. Devia ver também com que amor os filhos estão unidos aos pais e com que solicitude os empregados obedecem a eles.
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(imagem: O casal, em 1885 (Berlim), pouco antes da partida do jovem médico para Paris, onde passaria alguns meses estudando com Charcot)
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Então, Sigismund quer nos fazer acreditar que estava apaixonado pela filha, embora tão rapidamente direcionasse seu amor à mãe? No primeiro encontro, Gisela usava um vestido amarelo e Freud dirá que essa cor, quando vista em algum lugar, “ainda lhe causava efeito, muito tempo depois”. O vestido amarelo lembrava ao adolescente a cor das flores colhidas no campo em sua infância: na realidade, rever sua cidade natal emocionara-o mais que a companhia dos amigos. A viagem a Freiberg surtiu efeitos surpreendentes sobre o jovem. Mudou seu nome – de Sigismund para Sigmund – e alterou, sobretudo, seus projetos para o futuro.
Aos 12 anos, queria ser ministro; adolescente, o direito e a política o atraíam, e eis que de súbito renuncia à tarefa de governar os homens e a nação para interrogar a mente.

Teria Freud iniciado sua aventura analítica ao contar para o amigo Silberstein a estada em Freiberg? O processo de escrita já ocupava o primeiro plano de sua reflexão, exatamente como acontecerá mais tarde, entre 1882 e 1886, com as cartas incansavelmente trocadas com Martha Bernays durante os quatro anos que durou o noivado, no ritmo de quase uma carta por dia. Harold Blum, presidente dos Arquivos Freud, declararou, um século depois, que as cartas entre Sigmund e Martha foram “a mais importante correspondência amorosa da cultura ocidental”.

Certa tarde de abril de 1882, Martha Bernays visita as irmãs de Sigmund.O biógrafo de Freud Ernest Jones descreve o encontro:

“(Freud) tinha o hábito, ao voltar do trabalho, de dirigir-se rapidamente a seu quarto para voltar aos estudos, sem preocupar-se com as visitas. Mas, esta tarde, ele parou ao perceber uma moça que, sentada à mesa da família, descascava uma maçã tagarelando alegremente; para surpresa de todos, ele juntou-se ao grupo. Este primeiro olhar foi decisivo.”

Alguns dias após aquela primeira conversa, Freud pergunta se ele poderia ser, para Martha, tão importante quanto ela é para ele. O sol brilha no bosque de Mödling e a jovem se mostra encantadora; eles encontram uma amêndoa com dois frutos. Manda a tradição vienense que troquem presentes; ela envia um doce que preparou para que ele o “disseque”, ele lhe oferece uma rosa. Dois dias mais tarde, ela pega sua mão sob a mesa onde janta a família, em resposta a uma atenção delicada: ele quer conservar como lembrança seu cartão de visita.

Feliz, na solidão de seu escritório, Sigmund escreve sua primeira carta de amor, palpitante, com o segredo em primeiro plano:
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(Imagem: EM 28 DE JANEIRO de 1884, Freud comenta as iniciais enlaçadas do novo cartão de visita de sua noiva Martha Bernays: “Na minha opinião, o B é pretensioso demais e o M, por demais modesto. Como sabe, só o M me interessa”. No dia seguinte, ele dirá: “Madame Martha Freud soaria ainda mais belo a meus olhos e a meus ouvidos”. Abaixo, o monograma refeito depois de suas observações.)
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My sweet darling girl, (...) ignoro ainda como farei chegar até você estas linhas. (...) Mas me parece impossível protelar o envio desta carta, pois, nos poucos minutos que passaremos juntos, não terei nem tempo, nem talvez a coragem de falar tudo... Querida Martha, como você transformou minha existência, que delicioso momento experimentei hoje (...) a seu lado... Como desejaria que a tarde e o passeio jamais terminassem. Não ouso escrever o que me emocionou. Como imaginar que, durante meses, não verei seus traços queridos; (...) tantas esperanças, dúvidas, alegria, privações encontram-se condensadas nesse espaço de tempo tão curto de duas semanas... Você vai viajar e deve permitir que eu escreva. Estabeleci uma pequena estratégia. No caso de uma carta masculina parecer estranha na casa de seu tio, escreva com sua mão delicada seu endereço em alguns envelopes e depois eu preencho com um miserável conteúdo essas preciosas embalagens. (...) Para mim é impossível dizer a você tudo que me resta ainda a dizer, (...) não ouso terminar minha frase. (...) Queria estar certo de uma intimidade que talvez deva continuar secreta por muito tempo.

Martha responde, enviando-lhe um anel que pertencera a seu pai, morto três anos antes. Ele o coloca em seu dedo mínimo. Alguns dias depois, relata Jones, um cirurgião “afunda o bisturi na garganta de Freud para retirar um abscesso, e Sigmund, no sofrimento, bate a mão contra a mesa”: o anel quebra. O jovem, transtornado, escreve à bem-amada.

Meu anel quebrou no lugar onde estava a pérola. (...) Reconheço, meu coração não saltou. Nenhum pressentimento me diz que nosso noivado será rompido e nenhuma sombria suspeita me faz pensar que você, bem nesse momento, expulsava minha imagem de seu coração. Um homem impressionável teria sentido assim, mas eu só pensei em uma coisa: consertar o anel. Pensei também que tais acidentes dificilmente podem ser evitados.

Freud ainda não descobriu os “atos falhos”, mas já indaga sobre o significado desse “incidente” que põe em perigo seu amor. No entanto, é Martha quem ele questiona, é do “outro” que ele suspeita, em vez de interrogar a si mesmo sobre o significado desse inchaço em sua garganta, causa do acontecimento. Seria um sinal de angústia diante de seus novos sentimentos?

AUTO-ANÁLISE
Em 17 de junho de 1882, os dois jovens ficam noivos e prosseguem com paixão a correspondência romântica, esta incursão iniciática no diálogo do amor, matéria-prima da psicanálise. Sigmund escreve a Martha: É preciso que você me ame sem razão, como amam sem razão todos os que amam, simplesmente porque eu te amo. Entretanto, em agosto de 1882, uma forte inflamação da garganta impede-o de engolir qualquer coisa durante vários dias. Ao curar-se, ele sente uma fome gargantuesca como um animal saindo de um sono de hibernação, uma fome acompanhada de uma apavorante nostalgia, (...) apavorante não é a palavra exata, eu devia dizer estranha, monstruosa, desmesurada, em suma, uma indescritível necessidade de você. Tradução oral de um amor devorador, que o jovem deverá aprender a refrear, como o fez durante o noivado, sublimando-o na escrita.

Martha tem 19 anos, mas Freud refere-se a ela como uma criatura adorada, um “anjinho”, uma “criança querida”, um “bichinho” a quem ele pede testemunho de sua juventude: Tente, por favor, roubar todas as fotos de tua infância. (...) Eu gostaria tanto de te ver com as faces redondas como se vê em teu retrato de criança. Por que ele quer que ela mais pareça uma criança que um adulto? Cuide-se, jovem, as gavetas serão arrumadas segundo uma nova ordem.

Como o silêncio da senhorita se prolonga, ele se irrita: Eu não quero que minhas cartas fiquem sempre sem resposta! Depois, quando enfim chegam as cartas, seu tom já é outro:

Ao lê-las, não canso de aprová-la, sim, era bem assim que eu queria que ela fosse, minha pequena Martha, e assim ela tornou-se... Você ignora a extensão de sua influência sobre mim. Estou pronto a me submeter à tutela de minha princesa... Você se mostra tão ambiciosa a meu respeito. Quando penso no que eu seria se não tivesse encontrado você: um homem sem ambição, incapaz de gozar dos prazeres fáceis que o mundo oferece; provido de meios intelectuais modestos, e sem nenhum recurso material, eu perambularia miseravelmente e terminaria na ruína. Agora você me oferece não apenas um objetivo, uma orientação, você me dá esperança e certeza do sucesso... Tudo o que aconteceu e ainda acontecerá adquire para mim um interesse novo, graças ao próprio interesse que você mesma demonstra... Você escreve com tanto acerto e inteligência que me assusta um pouco...

As cartas sucedem-se, e esse encontro, essa presença real, estranha ao saber que tem de si próprio, permite-lhe antecipar a certeza do sucesso, pois a ambição que nasce dessa proximidade compensa, no imaginário, a incerteza que ele tem do prazer do outro.

Para a psicanalista e escritora francesa Marthe Robert, essa correspondência apaixonante não apenas é digna de figurar em uma antologia da literatura amorosa, mas constitui também uma parte importante da obra freudiana. Com ela finda a correspondência com seus amigos de adolescência, Eduard Silberstein e Emil Fluss, e começa, na realidade, sua auto-análise, bem antes da correspondência com o amigo Wilhelm Fliess. Mordida a maçã, tem início uma auto-reflexão escrita por Freud: escrevendo a Martha sobre seus sentimentos, angústias, caprichos, sonhos, ele lhe transfere seus afetos e, confiante, deixa livre curso para seus pensamentos: o amor e a separação revelam, para ele, o poder das associações “livres” e conduzem-no, assim, à própria operação analítica. ( Tradução de Juliana Montoia de Lima)

OS MISTÉRIOS DO OUTRO SEXO

A mulher é um enigma para o homem. Ela coloca em xeque a identificação masculina e interroga-o: qual transformação nele se opera ao assumir sua imagem masculina e quais as conseqüências dessa transformação? Em uma carta que escreveu a Martha, Freud evoca a lenda medieval de Melusina, retomada por Goethe no conto apresentado no romance Os anos de aprendizagem de Wilhelm Meister (1796): o filho do rei dos bretões casa com a fada Melusina prometendo jamais vê-la aos sábados. Entretanto, depois de muitos anos de felicidade, o homem descumpre sua promessa e, num sábado, observa, escondido, a esposa: Melusina era mulher até o umbigo e serpente do umbigo para baixo. Ele a vê se transformar em serpente alada e desaparecer para sempre. Freud diz a sua noiva que ele prefere não lhe contar “todas as idéias extravagantes ou sérias” que a leitura desse conto lhe causara. Essa referência a Melusina ressurgirá em um sonho estranho de Freud: Ernst Brücke, seu velho professor de psicologia, obriga-o a dissecar a parte inferior de seu corpo e Freud vê sua bacia diante de si, separada do corpo. (B. T.)

Daqui.
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Uma delícia saber que o pai da psicanálise ficou tão perdido de amor a ponto de escrever coisas como: É preciso que você me ame sem razão, como amam sem razão todos os que amam, simplesmente porque eu te amo.
O noivado foi um apaixonado trocar de cartas, já o casamento nem tão apaixonado relegou Martha a segundo plano. Literalmente a mulher por trás do grande homem. Ela foi a sombra que sustentava o médico. Freud nunca desenvolveria com ela uma cumplicidade intelectual, outras mulheres ocupariam esse lugar na sua vida. Ainda assim ela seria fundamental na vida dele.
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Na biografia de Freud que escreveu, Peter Gay cita a resposta enviada por Martha a uma carta de condolências que recebeu após a morte de Freud, na qual disse que "é um consolo pequeno saber que, em nossos 53 anos de casamento, nunca houve uma única palavra irada trocada entre nós, e sempre me esforcei ao máximo para afastar de seu caminho a "misère" da vida cotidiana".
Afastar a misère da vida dele. Acho que isso demonstra bem o que foi a vida dela e a sorte que ele teve em conhecê-la e ter alguém que por amor absteve-se de si. Uma bela história de amor.
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fonte: Literatus
Klockwork Kubrick
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Até que alguém que pelas suas características foi diagnosticado como portador de autismo de alto desempenho, Kubrick se saiu muitíssimo bem.
Genial,o diretor tinha a seguinte teoria: repetir os takes exaustivamente, até obter o resultado pretendido. Apesar de parecer um ato aparentemente frio e desumano, os resultados com a atriz Shelley Duvall em O Iluminado parecem ter funcionado. Após mais de 100 takes (um recorde) os gritos de desespero da atriz na cena "Here is Johnny" pareciam reais. Talvez por que fossem reais.
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Da cinebiografia de Kubrick, adoro todos em maior ou menor escala, sendo que "Laranja Mecânica" é a menina dos olhos. Sempre julgado pela violência exacerbada, tudo ali tem uma razão de ser, inclusive a violência. Alias, Kubrick prima pela técnica impecável mesmo quando exagera.
Mesmo quando misturava diversas técnicas, ele criava o ambiente que queria da maneira que desejava. Seus cenários tem cores sempre extravagantes, poucos objetos de cena, chão brilhando, luzes estourando nas paredes e tetos, tudo tem uma perfeita sintonia com o mundo em questão. Aliás, essa característica não se diz somente à "Laranja Mecânica", e sim a todos os filmes de Kubrick, até mesmo Spartacus!


No filme Alex (a-lex, sem-lex, sem-lei) interpretado brilhantemente por Malcolm MacDowell é o protagonista narrador de nossa história, nosso herói pós-moderno, onde a ultraviolência é o ideal da violência estetizada, violência transformada em espetáculo, em show, em objeto de consumo. Violência industrial, objetivada e despersonalizada.



Alex deliberadamente agride e transgride essa segurança social como forma de afirmação de sua liberdade individual e o meio que encontrou para isso é destruindo as possibilidades de segurança da sociedade.



Se na violência passional há um sujeito que violenta um objeto de violação, isso já não existe quando a destruição se torna bem de consumo. Não importa mais quem sofre ou quem faz sofrer, muito menos o porquê do sofrimento. Agora é o próprio sofrimento, e unicamente ele, o sujeito, o objeto e a finalidade da violência.
Alex é preso. Concorda-se que Alex merece ser punido. Esse tratamento promete retirar de Alex a sua violência extremada.



É aí que a violência se inverte e o tratamento o torna enfim um indivíduo cujos instintos e vontades se encontram subjugados ao condicionamento social. Ser desprezível e sem importância, privado de qualquer espécie de prazer, Alex é agora uma laranja mecânica. Estava, agora, tão desumanizado quanto antes.



Se outrora o personagem não poderia ser considerado plenamente humano porque não era cúmplice do código social, agora ele é igualmente desumano, porque não pode ser senhor de si mesmo, não pode gozar de seus instintos.
A genialidade do filme está aí, na inversão dos valores, no enquadramento de Alex pelo Tratamento Ludovico e o questionamento que fica é: Não estamos nós permanentemente sob um Tratamento Ludovico? Não é essa a função das instituições sociais como a Religião, a Família, a Escola e a Moral em si? Não estamos cada vez mais condicionados àquilo que se prevê como correto e bom? Não estamos mergulhados num sistema de dogmas e preconceitos que regem nossos julgamentos?
Enfim, é genial.
Leia mais.
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Stanley Kubrick
Nova Iorque, 26 de julho de 1928 — Hertfordshire, 7 de março de 1999.
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fonte: Literatus
Comigo
a anatomia ficou louca.
Sou todo coração -
em todas as partes palpita.

Maiakóvski
“Sou poeta.
É justamente por isto que sou interessante”.
(Maiakovski, Eu mesmo).
"...


o desejo é o começo do corpo



..."

(Cultura - Arnaldo Antunes)
música toda: http://anjoanaconda.blogspot.com/2007/04/cultura-arnaldo-antunes-o-girino-o.html#links
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As coisas mudam...

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sexta-feira, agosto 01, 2008

Procurando uma pintura do Klimt, achei uma opinião mt boa!! Veja só:

"Na ocasião, eu disse: (...) algumas vezes tenho a sensação de que determinadas ações machucam mais do que uma palavra bem dita. Ou bendita. Me incomodam os não-ditos e as ações que promovem as entre-linhas mal ditas.

Assumo meu erro. O erro de confiar na possibilidade de mudar alguma coisa que minha intuição diz que eu não terei o poder. Assumo o erro de acreditar na minha capacidade de controlar o que não pode ser controlado. Assumo o erro de entregar minhas armas sem reservas. Assumo meu erro de confiar demais no respeito que acredito me ser devido e portanto, assumo o erro de não perceber que apesar de devido não me é dado.

Convivência é algo complexo, exige preparo, persistência e principalmente a consciência de que o conflito irá existir sempre nas relações. (...) Muitas vezes desrespeitamos sem perceber que estamos agindo de tal forma e por este motivo cabe a cada um refletir sobre as ações e se desculpar quando for a coisa certa se fazer.(...)Então acho que essa história do "doa a quem doer" é papo de gente covarde que não tem coragem respeitar... Porque sim, para se respeitar é preciso ter coragem. Para se respeitar é preciso ter paciência e cuidado. Post: Um Pouco de Respeito de 20 de Agosto."

fonte: http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.parriot2005.blogger.com.br/life.jpg&imgrefurl=http://www.parriot2005.blogger.com.br/2005_12_01_archive.html&h=245&w=350&sz=34&hl=pt-BR&start=830&um=1&tbnid=F1ctN7gqGI6bxM:&tbnh=84&tbnw=120&prev=/images%3Fq%3Dgustav%2Bklimt%26start%3D820%26ndsp%3D20%26um%3D1%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DN

quarta-feira, julho 30, 2008

Eu vejo que aprendi
O quanto te ensinei
E nos teus braços que ele vai saber
Não há por que voltar
Não penso em te seguir
Não quero mais a tua insensatez


O que fazes sem pensar aprendeste do olhar
E das palavras que guardei pra ti

Não penso em me vingar
Não sou assim
A tua insegurança era por mim

Não basta o compromisso
Vale mais o coração
Já que não me entendes, não me julgues
Não me tentes
O que sabes fazer agora
Veio tudo de nossas horas

Eu não minto, eu não sou assim
Ninguém sabia e ninguém viu
Que eu estava a teu lado então
Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher
Sou minha mãe e minha filha,
Minha irmã, minha menina
Mas sou minha, só minha e não de quem quiser
...

(1º de Julho - Cássia Eller; Composição: Renato Russo )

segunda-feira, julho 28, 2008

O q será então?

Muitas vezes, quando chega a hora de dormir, chega também a hora de escrever! E é um luxo estar de férias nessas horas!! O mundo inteiro está dormindo e vc está do seu lado: escrevendo!

Além de todas as companhias às quais esse meio de ano permite que vc se reconecte, uma relação muito importante não deve ser esquecida: a com você mesmo! E quantas vezes tentei pôr outros nesse lugar! Justamente por isso que, quando tudo dava errado, eu me sentia tão só! As pessoas devem valer o seu primeiro lugar mas não fazê-lo de pedestal o tempo todo. O pedestal não existe. O q há é uma tal "necessidade" de certas coisas mais real pela força do q pela razão vital, de fato. E tão falsa é q pode acabar com a própria vida! Fruto da preguiça e do medo que chega quando a gente vai pra realidade!

"Preguiça e medo", já diria o filme Waking Life, são os maiores problemas da humanidade! Meus medos não me impedem mas gostaria de sentí-los menos. Minha preguiça me engana, me engana muito ainda! Mas tem sido cada vez menos efetiva. E ainda sim falta tanto em mim... Mas esse é o lado curioso da vida! Se existisse uma fórmula para ser extraordinária, a própria fórmula seria uma sabotagem da meta! Toda lógica matemática carrega o estigma do silogismo, quando aplicada a outros assuntos... mas que não se esqueça o extraordinário por ele não ser óbvio!

Acho q isso tem tudo a ver com a felicidade! Talvez porque simplesmente não queria uma fonte que só me dê realização se vier da minha tristeza! Quantos poetas admiráveis morreram infelizes e miseráveis? Definitivamente não é o q procuro. Mas tenho medo de ser esse o caminho, sou obrigada a confessar!! Crio mais quando triste do q quando satisfeita inclusive quando quero falar de felicidade... mas q caminho torto! E ainda é considerado esperto o corvo q dobra essa ponta do material e o usa como ferramenta! Eu quero ser o corvo e não sua ferramenta torta e triste!

O conhecimento
a criação
a criatividade
sobretudo a escrita
o desenho
minhas relações firmes
descobertas
contemplação
talento
ousadia
humildade/simplicidade
companheirismo
raciocínio
um miado/um latido
os meus sentidos em uso
...

Nossa! Quanta coisa me deixa feliz! Eu quero SER feliz com elas!!
[...]
As smoke clouds roll in
The symphony of death
This is the last stop
Scream

Right is wrong now
Shut up you big lie
This black and white lie
You comb your hair to hide
Your lying eyes

You're righteous, so righteous, so righteous
You're always so right
But why your lie
Go ahead and dream
Go ahead believe that you are the chosen one

This is the last stop
Here there's more than is showing up
Hope that we can break it down
So it's not so black and white
[...]

(The Last Stop - Dave Matthews Band)

domingo, julho 27, 2008

Halloween
Dave Mattews band

Hey little dreamer's eyes open and staring up at me
Oh, little lovely eyes, oh, radiant
Wait until I come and I will steal you
Wait until I come I'll take your soul
Wait until I come and I will steal you
Wait until I come and I will go

I will dream within the night
Shadows on the windows
Lead our love
Every love will lead me on tonight
I will lay you lying,
I will not within this life

Oh, little dreamer eyes open and waving here
Wait until I come, I see him with you
Until I come, I'll leave with me
Until I come, I do come, love...

We will leave it all behind
Oh, and in the nightmares,
I'll fill them in good time, oh

They will 'seech your mind
And no lying, and you may, well, ask,
"Why do we run around here?
Oh, while you come inside me
Oh, why does it rip me all between?"
Why then, why then, watch this little fuck!

Going away, yeah...
Why are you worry, Why are you worry, Why are you worry, love?
Why are you worry, Why are you worry, Why are you worry, love?
Halloween.
Carry on, burial, burial, burial, burial, burial
And let them see
But tell us, are you satisfied with fucking?
Don't walk away, don't walk away, don't walk away
I'm talking to you

Lovey dove, love is hell, love is hell, love is up to you
Love, love, love, love is up to you
Love, love, love, love is up to you
Fuck!

In the sky is it wrote
Up from the ground,
I stay out of breath
I felt the temperature rises
And I felt across the creeping cold
These graves...

Su: hahaha
sem horas e sem dores
respeitável público pagão
bem vindos ao teatro mágico

parto-me

A poesia prevalece!!!
[...]
Evoca-se na sombra uma inquietude
uma alteridade disfarçada...
Inquilina de todos nossos riscos...
A juventude plena e sem planos... se esvai
O parto ocorre. Parto-me.
Aborto certas convicções.
Abordo demônios e manias
Flagelo-me
Exponho cicatrizes
E acordo os meus, com muito mais cuidado.
Muito mais atenção!
E a tensão que parecia não passar,
“O ser vil que passou pra servir...
Pra discernir...”
Pra pontuar o tom.
Movimento, som
Toda terra que devo doar!
Todo voto que devo parir
Não dever ao devir
Não deixar escoar a dor!
Nunca deixar de ouvir...

com outros olhos!

(Amadurecência - O Teatro Mágico)

Su: A opção q fiz foi justamente para prevalecer a poesia! Convicções são abortadas mas outras vem no seu encalço! O q me resta agora é o óbvio: ser ainda melhor no q eu queria ser! Tentar só acordar os meus... os outros precisam muito, muito, muito dormir!! Meus novos olhos admitem melhor o q sempre viram agora q nasço de novo!
...
Anubliado, clareou
Chão barreado não esconde a cor
Das lembranças que eu trago meu perdão e meu rancor
Alumiada estação
Onde as meninas brincando no portão
Tem horas que são senhoras, têm horas, que horas são?
E o que resta é sem sentido
Fico perdido, sem direção
Fico danado e nado o rio São Francisco
Buscando remanso pro meu coração
...
(Abaçaiado - Teatro Mágico)
Survive
Rise Against


Somewhere between happy, and total fucking wreck
Feet sometimes on solid ground, sometimes at the edge
To spend your waking moments, simply killing time
Is to give up on your hopes and dreams, to give up on your...

Life for you, (who we are) has been less than kind
So take a number, (who we are) stand in line
We've all been sorry, (who we are) we've all been hurt
But how we survive, (who we are) is what makes us who we are

An obvious disinterest, a barely managed smile
A deep nod in agreement, a status quo exile
I shirk my obligations, I miss all your deadlines
I excel at quitting early, and fucking up my life

Life for you, (who we are) has been less than kind
So take a number, (who we are) stand in line
We've all been sorry, (who we are) we've all been hurt
But how we survive, (who we are) is what makes us who we are

All smiles and sunshine, a perfect world on a perfect day
Everything always works out, I have never felt so fucking great
All smiles and sunshine, a perfect world on a perfect day
Everything always works out, I have never felt so great

(Life isn't like this)
(Life isn't like this)
(Life isn't like this)
(Life isn't like this)
(Life isn't like this) Life isn't like this
(Life isn't like this) Life isn't like this
(Life isn't like this) Are we verging on an answer,
or fucking up our...

Life for you, (who we are) has been less than kind
So take a number, (who we are) stand in line
We've all been sorry, (who we are) we've all been hurt
But how we survive, (who we are) is what makes us who we are

(Who we are)
It's what makes us who we are
(Who we are)
Makes us who we are
(Who we are)
It's what makes us who we are
(Who we are)


Su: Banda apresentada como um presentinho fofo de Juliano!! hahahaha
Aos muito adaptados:

"A pretensa sabedoria do adulto, calcada na didatização, acaba por desencorajar a imaginação da criança. Jobim & Souza (1994: p. 89) entende que 'a criança emprega suas mágicas usando metamorfoses múltiplas, Só ela dispõe tão bem da capacidade de estabelecer semelhanças. Esse dom a separa dos adultos, cuja imaginação se encontra tão bem adaptada à realidade', adaptação que pode levar à perda do potencial libertador que tem a palavra. Torna-se, então, necessário, reinventar a própria linguagem ou recuperar algo nela que está perdido."

fonte: http://www.anped.org.br/reunioes/27/gt07/t075.pdf
1-

No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer
nascimentos –
O verbo tem que pegar delírio.
(Barros, 2001b, p. 15)

2-
A criança, então, para Manoel, não é um ser ingênuo, incompetente, mas sim inquieto, inventivo e transgressor, capaz de criar um mundo inserido no mundo maior, tal como o pensamento de Benjamin (1984) sobre a infância. O poeta mostra a incompreensão do adulto que não ouve a criança, considerando-a como ser incompetente e incompleto, que ainda não é e que precisa vir a ser, e ignorando a capacidade da criança de estabelecer semelhanças:

O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa./ Passou um homem depois e disse: Essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada./ Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás da casa. / Era uma enseada./ Acho que o nome empobreceu a imagem.
(Barros, 2001b, p.25)

fonte: http://www.anped.org.br/reunioes/27/gt07/t075.pdf

Su: Agora sim! É com essa criança que eu gostaria de trabalhar!!
Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina.
(fonte: http://fotolog.terra.com.br/ivanmauricio:391)


"As coisas que não existem são mais bonitas."
(fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br/castel09.html)

Su: E quanto a essa segunda frase, quem cria? Nós. Podemos ser felizes com o q criamos, desde q saibamos que foi inventado!! E isso não impede que a criação seja realidade!
"Será que um artista conhece sua obra?" frase não sei de quem mas que mostra que isso não quer dizer q temos nossa obra sob nosso controle ou q a conhecemos totalmente. A partir do momento em que ela é jogada no mundo, não é mais nossa, embora tenha em nós começado! Ela é uma realidade ainda que abstrata e não ilusão. E ela pode ser muito mais bonita do que o real que já está aqui antes de chegarmos, se vier desse desejo!!

sábado, julho 26, 2008

Swing Hum e Meio

Móveis Coloniais de Acaju

Composição: Indisponível

Embora dá para não perceber
Alguém deve estar rindo de você
Motivo talvez nem exista
Então por favor não insista

Se a imagem como documento
Não esqueça de esquecer seu talento
Aborte todo e qualquer lirismo
Para não cair em ostracismo

Seja maduro apague a ilusão
De quem tem caráter tem tudo na mão
E se é para sair bem na fotografia
Venda a sua mãe mas não perca a simpatia

Não é difícil de comparar
O meu cérebro com a castanha do Pará
Não é difícil de comparar
O nosso cérebro com a castanha do Pará

A bem da verdade é mais fácil aceitar
O mundo assim do que só contestar
A vida é um processo de atuação
Se você quer ser alguém, se destacar da multidão

Abaixa a cabeça para obter atenção
Encolha o rabo e terá admiração
Se quiser ser ouvido é bom ficar calado
E que tudo fique no mesmo estado

Hipocrisia não é mais cinismo
Eu chamo de multilateralismo
Um afago para cá uma cusparada pra lá
E assim o país inteiro vai te amar

Não é difícil de comparar
O meu cérebro com a castanha do Pará
Não é difícil de comparar
O nosso cérebro com a castanha do Pará