domingo, agosto 24, 2008

"A essência do brincar não é um 'fazer como se', mas um 'fazer sempre de novo', transformação da experiência mais comovente em hábito. (Benjamim, 2002, p.101-102)"

"As crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade. (Mário Quintana, porta giratória)"

"A solidariedade é tão frágil quanto o verniz da civilização, 'cada um por si, Deus, por todos'."

"As crianças brincam com o interdito (...). A brincadeira parece só ter espaço para se estabelecer porque o mundo está literalmente na desordem, no caos. (...) aquilo que barraria a barbárie, ou seja, a interdição, não se instalou; por isso, resta às crianças trazer de volta à cena o impedimento, a privação."

livro: imagens do desaprender, de Adriana Fresquet (organizadora)

segunda-feira, agosto 11, 2008

"As memórias são como pássaros em vôo. Vão para onde querem. E podemos chamá-las que elas não vêm. Só vêm quando querem. Moram em nós, mas não nos pertencem."
Rubem Alves - em O velho que acordou menino.



"O medo é o que nos faz persistir. Já pensaste o que seria se não houvesse a falta, a ausência, que nos faz persistir em procurar? Seria o tédio avassalador a tomar conta de nós. A falta não é uma insuficiência, um defeito a que estaríamos condenados, ao qual nós próprios nos condenássemos. A falta é o que nos faz continuar. E o mais importante é aprender, o mais lindo. E a ignorância é a condição de aprender. Não saber e querer saber. É a minha contradição, o que completa o meu destino. (…) O que nos faz falta não é isto nem aquilo que sabemos o que é. O que nos faz falta é o amor que não se sabe. Estranha é a nossa condição, a vida que nos acompanha e que, de repente, nos deixa. Nem no fim saberemos o que fomos. O princípio é traiçoeiro. O fim jamais acontecerá. E quanto mais amamos menos sabemos da palavra amor, o que nos faz falta. Sentimos o que faz falta, o que é outra coisa. No amor, tudo nos faz falta. Tentar dizer o que é o amor, a ausência de nós, é como tentar dizer a um que não vê, qual é a cor do mar. Insistimos em saber. Devíamos desistir. Sabe-se lá do amor. E sem ele nada há. Tudo preenche, tudo ocupa, os lugares mais secretos, onde já nada esperávamos encontrar. Sim, sobretudo aí. É urgente aprender a sentir a falta que nos faz."
Pedro Paixão, in "Os Corações Também Se Gastam"



(...) E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual a perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu (...)
(...) Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolo sem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar (...)
Caio F.

Su:
Pra mim é como uma morte. E o que restou existindo é alucinação. Entre PareceR e Ser há um abismo! Por quanto tempo se consegue ignorar um abismo sem transformá-lo num oceano? A sorte é q a minha perda foi completa: quem eu amei não existe. Ai daquele q se perder pela metade!

(Estava falando isso ontem com Rafaella!! Mt bom o texto!!)

fonte: Literatus
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(“Vem, amor... Me dá um beijo e me arranha as costas, que hoje eu quero sentir o gosto da felicidade." - in Coisas de Amor Largadas na Noite, E. Almeida)
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Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

(Ricardo Reis)


Ó subalimentados do sonho!
A poesia é para comer!

(Natália Correia)


fonte: ki

Ser "bonzinho" é, pelo menos, enquanto for bom pra mim ... :0)


Os amores de Freud
Na adolescência, o criador da psicanálise enamora-se durante uma viagem; aos 26 anos encontra em Martha a paixão – e a transferência.


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Em 1872, Sigismund está com 16 anos, é aluno brilhante e adorado pela família. Nas férias, aceita o convite dos Fluss para ir a Freiberg, sua cidade natal.
É a primeira vez que retorna ao lugar de infância, depois de sua família ter mudado para Leipzig em 1859 e para Viena no ano seguinte. Na viagem, ele se apaixona perdidamente por uma moça de 14 anos, irmã de Emil Fluss, seu amigo de infância. A história está registrada em uma carta escrita por ele a Eduard Silberstein, em 17 de agosto de 1872:
Só quero dizer que sinto uma inclinação pela primogênita, Gisela, que parte amanhã, ausência que me dará uma segurança no comportamento que até então não conheci. Vossa graça, conhecendo meu peculiar caráter, imaginará, com razão, que, em vez de me aproximar, distanciei-me dela.
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(imagem: EM CARTA À NOIVA de 5 de outubro de 1883, Freud desenha sua sala no Hospital Geral de Viena.)
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Freud descreveu sua paixão ao confidente e não à amada: é dela que fala, mas não para ela. No artigo Lembranças encobridoras (1899), evocando esse amor de adolescente, ele o atribuirá a um paciente anônimo:

Eu tinha 17 anos, a filha de meus anfitriões tinha 15 e eu logo me apaixonei. Era a primeira vez que meu coração se inflamava de maneira tão intensa, mas guardei segredo sobre esse amor. Poucos dias depois, terminadas as férias, a jovem retornou ao seu colégio, e a separação, depois de um encontro tão breve, só fez exasperar minha nostalgia.

Na “confissão” a Silberstein, Freud disse estar loucamente apaixonado por Gisela, mas sua chama dirige-se rapidamente para Eleanora Fluss, a mãe da moça. Ele estremecia ao ouvir sua voz e quando se refere a ela não poupa elogios:

Mas afasto-me do assunto que muito me interessa: parece que eu transferi à filha, sob forma de amizade, o respeito que me inspira a mãe. (...) Admiro imensamente essa mulher, como nenhum de seus filhos consegue igualar. (...) Ela leu muito (...) e aquilo que não leu, ouviu falar, e tem suas próprias opiniões a respeito. (...) Conhece inclusive a política, participa dos assuntos do pequeno burgo e creio que é ela quem bafeja um espírito moderno pela casa. (...) Bela, nunca foi, mas uma chama espiritual, uma luz ousada certamente sempre jorrou de seus olhos, como ainda hoje. (...) Devia ver como educou e educa seus sete filhos. (...) Nunca antes eu havia conhecido tamanha superioridade. Outras mães – e por que negar que as nossas estão entre elas? Não as amamos menos por isso – ocupam-se apenas do bem-estar físico de seus filhos e não têm nenhum poder sobre seu crescimento intelectual. Devia ver também com que amor os filhos estão unidos aos pais e com que solicitude os empregados obedecem a eles.
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(imagem: O casal, em 1885 (Berlim), pouco antes da partida do jovem médico para Paris, onde passaria alguns meses estudando com Charcot)
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Então, Sigismund quer nos fazer acreditar que estava apaixonado pela filha, embora tão rapidamente direcionasse seu amor à mãe? No primeiro encontro, Gisela usava um vestido amarelo e Freud dirá que essa cor, quando vista em algum lugar, “ainda lhe causava efeito, muito tempo depois”. O vestido amarelo lembrava ao adolescente a cor das flores colhidas no campo em sua infância: na realidade, rever sua cidade natal emocionara-o mais que a companhia dos amigos. A viagem a Freiberg surtiu efeitos surpreendentes sobre o jovem. Mudou seu nome – de Sigismund para Sigmund – e alterou, sobretudo, seus projetos para o futuro.
Aos 12 anos, queria ser ministro; adolescente, o direito e a política o atraíam, e eis que de súbito renuncia à tarefa de governar os homens e a nação para interrogar a mente.

Teria Freud iniciado sua aventura analítica ao contar para o amigo Silberstein a estada em Freiberg? O processo de escrita já ocupava o primeiro plano de sua reflexão, exatamente como acontecerá mais tarde, entre 1882 e 1886, com as cartas incansavelmente trocadas com Martha Bernays durante os quatro anos que durou o noivado, no ritmo de quase uma carta por dia. Harold Blum, presidente dos Arquivos Freud, declararou, um século depois, que as cartas entre Sigmund e Martha foram “a mais importante correspondência amorosa da cultura ocidental”.

Certa tarde de abril de 1882, Martha Bernays visita as irmãs de Sigmund.O biógrafo de Freud Ernest Jones descreve o encontro:

“(Freud) tinha o hábito, ao voltar do trabalho, de dirigir-se rapidamente a seu quarto para voltar aos estudos, sem preocupar-se com as visitas. Mas, esta tarde, ele parou ao perceber uma moça que, sentada à mesa da família, descascava uma maçã tagarelando alegremente; para surpresa de todos, ele juntou-se ao grupo. Este primeiro olhar foi decisivo.”

Alguns dias após aquela primeira conversa, Freud pergunta se ele poderia ser, para Martha, tão importante quanto ela é para ele. O sol brilha no bosque de Mödling e a jovem se mostra encantadora; eles encontram uma amêndoa com dois frutos. Manda a tradição vienense que troquem presentes; ela envia um doce que preparou para que ele o “disseque”, ele lhe oferece uma rosa. Dois dias mais tarde, ela pega sua mão sob a mesa onde janta a família, em resposta a uma atenção delicada: ele quer conservar como lembrança seu cartão de visita.

Feliz, na solidão de seu escritório, Sigmund escreve sua primeira carta de amor, palpitante, com o segredo em primeiro plano:
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(Imagem: EM 28 DE JANEIRO de 1884, Freud comenta as iniciais enlaçadas do novo cartão de visita de sua noiva Martha Bernays: “Na minha opinião, o B é pretensioso demais e o M, por demais modesto. Como sabe, só o M me interessa”. No dia seguinte, ele dirá: “Madame Martha Freud soaria ainda mais belo a meus olhos e a meus ouvidos”. Abaixo, o monograma refeito depois de suas observações.)
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My sweet darling girl, (...) ignoro ainda como farei chegar até você estas linhas. (...) Mas me parece impossível protelar o envio desta carta, pois, nos poucos minutos que passaremos juntos, não terei nem tempo, nem talvez a coragem de falar tudo... Querida Martha, como você transformou minha existência, que delicioso momento experimentei hoje (...) a seu lado... Como desejaria que a tarde e o passeio jamais terminassem. Não ouso escrever o que me emocionou. Como imaginar que, durante meses, não verei seus traços queridos; (...) tantas esperanças, dúvidas, alegria, privações encontram-se condensadas nesse espaço de tempo tão curto de duas semanas... Você vai viajar e deve permitir que eu escreva. Estabeleci uma pequena estratégia. No caso de uma carta masculina parecer estranha na casa de seu tio, escreva com sua mão delicada seu endereço em alguns envelopes e depois eu preencho com um miserável conteúdo essas preciosas embalagens. (...) Para mim é impossível dizer a você tudo que me resta ainda a dizer, (...) não ouso terminar minha frase. (...) Queria estar certo de uma intimidade que talvez deva continuar secreta por muito tempo.

Martha responde, enviando-lhe um anel que pertencera a seu pai, morto três anos antes. Ele o coloca em seu dedo mínimo. Alguns dias depois, relata Jones, um cirurgião “afunda o bisturi na garganta de Freud para retirar um abscesso, e Sigmund, no sofrimento, bate a mão contra a mesa”: o anel quebra. O jovem, transtornado, escreve à bem-amada.

Meu anel quebrou no lugar onde estava a pérola. (...) Reconheço, meu coração não saltou. Nenhum pressentimento me diz que nosso noivado será rompido e nenhuma sombria suspeita me faz pensar que você, bem nesse momento, expulsava minha imagem de seu coração. Um homem impressionável teria sentido assim, mas eu só pensei em uma coisa: consertar o anel. Pensei também que tais acidentes dificilmente podem ser evitados.

Freud ainda não descobriu os “atos falhos”, mas já indaga sobre o significado desse “incidente” que põe em perigo seu amor. No entanto, é Martha quem ele questiona, é do “outro” que ele suspeita, em vez de interrogar a si mesmo sobre o significado desse inchaço em sua garganta, causa do acontecimento. Seria um sinal de angústia diante de seus novos sentimentos?

AUTO-ANÁLISE
Em 17 de junho de 1882, os dois jovens ficam noivos e prosseguem com paixão a correspondência romântica, esta incursão iniciática no diálogo do amor, matéria-prima da psicanálise. Sigmund escreve a Martha: É preciso que você me ame sem razão, como amam sem razão todos os que amam, simplesmente porque eu te amo. Entretanto, em agosto de 1882, uma forte inflamação da garganta impede-o de engolir qualquer coisa durante vários dias. Ao curar-se, ele sente uma fome gargantuesca como um animal saindo de um sono de hibernação, uma fome acompanhada de uma apavorante nostalgia, (...) apavorante não é a palavra exata, eu devia dizer estranha, monstruosa, desmesurada, em suma, uma indescritível necessidade de você. Tradução oral de um amor devorador, que o jovem deverá aprender a refrear, como o fez durante o noivado, sublimando-o na escrita.

Martha tem 19 anos, mas Freud refere-se a ela como uma criatura adorada, um “anjinho”, uma “criança querida”, um “bichinho” a quem ele pede testemunho de sua juventude: Tente, por favor, roubar todas as fotos de tua infância. (...) Eu gostaria tanto de te ver com as faces redondas como se vê em teu retrato de criança. Por que ele quer que ela mais pareça uma criança que um adulto? Cuide-se, jovem, as gavetas serão arrumadas segundo uma nova ordem.

Como o silêncio da senhorita se prolonga, ele se irrita: Eu não quero que minhas cartas fiquem sempre sem resposta! Depois, quando enfim chegam as cartas, seu tom já é outro:

Ao lê-las, não canso de aprová-la, sim, era bem assim que eu queria que ela fosse, minha pequena Martha, e assim ela tornou-se... Você ignora a extensão de sua influência sobre mim. Estou pronto a me submeter à tutela de minha princesa... Você se mostra tão ambiciosa a meu respeito. Quando penso no que eu seria se não tivesse encontrado você: um homem sem ambição, incapaz de gozar dos prazeres fáceis que o mundo oferece; provido de meios intelectuais modestos, e sem nenhum recurso material, eu perambularia miseravelmente e terminaria na ruína. Agora você me oferece não apenas um objetivo, uma orientação, você me dá esperança e certeza do sucesso... Tudo o que aconteceu e ainda acontecerá adquire para mim um interesse novo, graças ao próprio interesse que você mesma demonstra... Você escreve com tanto acerto e inteligência que me assusta um pouco...

As cartas sucedem-se, e esse encontro, essa presença real, estranha ao saber que tem de si próprio, permite-lhe antecipar a certeza do sucesso, pois a ambição que nasce dessa proximidade compensa, no imaginário, a incerteza que ele tem do prazer do outro.

Para a psicanalista e escritora francesa Marthe Robert, essa correspondência apaixonante não apenas é digna de figurar em uma antologia da literatura amorosa, mas constitui também uma parte importante da obra freudiana. Com ela finda a correspondência com seus amigos de adolescência, Eduard Silberstein e Emil Fluss, e começa, na realidade, sua auto-análise, bem antes da correspondência com o amigo Wilhelm Fliess. Mordida a maçã, tem início uma auto-reflexão escrita por Freud: escrevendo a Martha sobre seus sentimentos, angústias, caprichos, sonhos, ele lhe transfere seus afetos e, confiante, deixa livre curso para seus pensamentos: o amor e a separação revelam, para ele, o poder das associações “livres” e conduzem-no, assim, à própria operação analítica. ( Tradução de Juliana Montoia de Lima)

OS MISTÉRIOS DO OUTRO SEXO

A mulher é um enigma para o homem. Ela coloca em xeque a identificação masculina e interroga-o: qual transformação nele se opera ao assumir sua imagem masculina e quais as conseqüências dessa transformação? Em uma carta que escreveu a Martha, Freud evoca a lenda medieval de Melusina, retomada por Goethe no conto apresentado no romance Os anos de aprendizagem de Wilhelm Meister (1796): o filho do rei dos bretões casa com a fada Melusina prometendo jamais vê-la aos sábados. Entretanto, depois de muitos anos de felicidade, o homem descumpre sua promessa e, num sábado, observa, escondido, a esposa: Melusina era mulher até o umbigo e serpente do umbigo para baixo. Ele a vê se transformar em serpente alada e desaparecer para sempre. Freud diz a sua noiva que ele prefere não lhe contar “todas as idéias extravagantes ou sérias” que a leitura desse conto lhe causara. Essa referência a Melusina ressurgirá em um sonho estranho de Freud: Ernst Brücke, seu velho professor de psicologia, obriga-o a dissecar a parte inferior de seu corpo e Freud vê sua bacia diante de si, separada do corpo. (B. T.)

Daqui.
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Uma delícia saber que o pai da psicanálise ficou tão perdido de amor a ponto de escrever coisas como: É preciso que você me ame sem razão, como amam sem razão todos os que amam, simplesmente porque eu te amo.
O noivado foi um apaixonado trocar de cartas, já o casamento nem tão apaixonado relegou Martha a segundo plano. Literalmente a mulher por trás do grande homem. Ela foi a sombra que sustentava o médico. Freud nunca desenvolveria com ela uma cumplicidade intelectual, outras mulheres ocupariam esse lugar na sua vida. Ainda assim ela seria fundamental na vida dele.
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Na biografia de Freud que escreveu, Peter Gay cita a resposta enviada por Martha a uma carta de condolências que recebeu após a morte de Freud, na qual disse que "é um consolo pequeno saber que, em nossos 53 anos de casamento, nunca houve uma única palavra irada trocada entre nós, e sempre me esforcei ao máximo para afastar de seu caminho a "misère" da vida cotidiana".
Afastar a misère da vida dele. Acho que isso demonstra bem o que foi a vida dela e a sorte que ele teve em conhecê-la e ter alguém que por amor absteve-se de si. Uma bela história de amor.
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fonte: Literatus
Klockwork Kubrick
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Até que alguém que pelas suas características foi diagnosticado como portador de autismo de alto desempenho, Kubrick se saiu muitíssimo bem.
Genial,o diretor tinha a seguinte teoria: repetir os takes exaustivamente, até obter o resultado pretendido. Apesar de parecer um ato aparentemente frio e desumano, os resultados com a atriz Shelley Duvall em O Iluminado parecem ter funcionado. Após mais de 100 takes (um recorde) os gritos de desespero da atriz na cena "Here is Johnny" pareciam reais. Talvez por que fossem reais.
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Da cinebiografia de Kubrick, adoro todos em maior ou menor escala, sendo que "Laranja Mecânica" é a menina dos olhos. Sempre julgado pela violência exacerbada, tudo ali tem uma razão de ser, inclusive a violência. Alias, Kubrick prima pela técnica impecável mesmo quando exagera.
Mesmo quando misturava diversas técnicas, ele criava o ambiente que queria da maneira que desejava. Seus cenários tem cores sempre extravagantes, poucos objetos de cena, chão brilhando, luzes estourando nas paredes e tetos, tudo tem uma perfeita sintonia com o mundo em questão. Aliás, essa característica não se diz somente à "Laranja Mecânica", e sim a todos os filmes de Kubrick, até mesmo Spartacus!


No filme Alex (a-lex, sem-lex, sem-lei) interpretado brilhantemente por Malcolm MacDowell é o protagonista narrador de nossa história, nosso herói pós-moderno, onde a ultraviolência é o ideal da violência estetizada, violência transformada em espetáculo, em show, em objeto de consumo. Violência industrial, objetivada e despersonalizada.



Alex deliberadamente agride e transgride essa segurança social como forma de afirmação de sua liberdade individual e o meio que encontrou para isso é destruindo as possibilidades de segurança da sociedade.



Se na violência passional há um sujeito que violenta um objeto de violação, isso já não existe quando a destruição se torna bem de consumo. Não importa mais quem sofre ou quem faz sofrer, muito menos o porquê do sofrimento. Agora é o próprio sofrimento, e unicamente ele, o sujeito, o objeto e a finalidade da violência.
Alex é preso. Concorda-se que Alex merece ser punido. Esse tratamento promete retirar de Alex a sua violência extremada.



É aí que a violência se inverte e o tratamento o torna enfim um indivíduo cujos instintos e vontades se encontram subjugados ao condicionamento social. Ser desprezível e sem importância, privado de qualquer espécie de prazer, Alex é agora uma laranja mecânica. Estava, agora, tão desumanizado quanto antes.



Se outrora o personagem não poderia ser considerado plenamente humano porque não era cúmplice do código social, agora ele é igualmente desumano, porque não pode ser senhor de si mesmo, não pode gozar de seus instintos.
A genialidade do filme está aí, na inversão dos valores, no enquadramento de Alex pelo Tratamento Ludovico e o questionamento que fica é: Não estamos nós permanentemente sob um Tratamento Ludovico? Não é essa a função das instituições sociais como a Religião, a Família, a Escola e a Moral em si? Não estamos cada vez mais condicionados àquilo que se prevê como correto e bom? Não estamos mergulhados num sistema de dogmas e preconceitos que regem nossos julgamentos?
Enfim, é genial.
Leia mais.
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Stanley Kubrick
Nova Iorque, 26 de julho de 1928 — Hertfordshire, 7 de março de 1999.
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fonte: Literatus
Comigo
a anatomia ficou louca.
Sou todo coração -
em todas as partes palpita.

Maiakóvski
“Sou poeta.
É justamente por isto que sou interessante”.
(Maiakovski, Eu mesmo).
"...


o desejo é o começo do corpo



..."

(Cultura - Arnaldo Antunes)
música toda: http://anjoanaconda.blogspot.com/2007/04/cultura-arnaldo-antunes-o-girino-o.html#links
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As coisas mudam...

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sexta-feira, agosto 01, 2008

Procurando uma pintura do Klimt, achei uma opinião mt boa!! Veja só:

"Na ocasião, eu disse: (...) algumas vezes tenho a sensação de que determinadas ações machucam mais do que uma palavra bem dita. Ou bendita. Me incomodam os não-ditos e as ações que promovem as entre-linhas mal ditas.

Assumo meu erro. O erro de confiar na possibilidade de mudar alguma coisa que minha intuição diz que eu não terei o poder. Assumo o erro de acreditar na minha capacidade de controlar o que não pode ser controlado. Assumo o erro de entregar minhas armas sem reservas. Assumo meu erro de confiar demais no respeito que acredito me ser devido e portanto, assumo o erro de não perceber que apesar de devido não me é dado.

Convivência é algo complexo, exige preparo, persistência e principalmente a consciência de que o conflito irá existir sempre nas relações. (...) Muitas vezes desrespeitamos sem perceber que estamos agindo de tal forma e por este motivo cabe a cada um refletir sobre as ações e se desculpar quando for a coisa certa se fazer.(...)Então acho que essa história do "doa a quem doer" é papo de gente covarde que não tem coragem respeitar... Porque sim, para se respeitar é preciso ter coragem. Para se respeitar é preciso ter paciência e cuidado. Post: Um Pouco de Respeito de 20 de Agosto."

fonte: http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.parriot2005.blogger.com.br/life.jpg&imgrefurl=http://www.parriot2005.blogger.com.br/2005_12_01_archive.html&h=245&w=350&sz=34&hl=pt-BR&start=830&um=1&tbnid=F1ctN7gqGI6bxM:&tbnh=84&tbnw=120&prev=/images%3Fq%3Dgustav%2Bklimt%26start%3D820%26ndsp%3D20%26um%3D1%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DN