quinta-feira, janeiro 26, 2012

Como trabalhar o que não se vê? Ouvir não se sabe o quê ou a quem? Se até o sujeito - antes supostamente tão concreto e visível - tornou-se uma "instituição" ... De repente, não estamos mais em uma instituição, não tratamos mais a instituição, mas somos, por exemplo, atravessados pela instituição.

Ensinou?

Já ensinou alo que achava errado?

Todo adulto gay foi uma criança gay

Todo adulto gay foi uma criança gay



Aideia inicial era postar alguns trechos dos textos abaixo e comentá-los, mas acho que Amelia (nome fictício), a mãe do menino de seis anos apaixonado pelo Blaine de Glee, falou por si só, especialmente no terceiro texto. Então, hoje só teremos uma tradução aqui no Minoria é a Mãe. Os comentários eu deixo pra vocês.

Meu filho mais velho tem seis anos e está apaixonado pela primeira vez. Ele está apaixonado pelo Blaine de Glee.

Para quem não sabe, Blaine é um garoto… um garoto gay, namorado de um dos personagens principais, Kurt.

Não é um amor do tipo “ele acha o Blaine muito maneiro”. É do tipo de amor em que ele devaneia olhando para uma foto de Blaine por meia hora seguido por um ávido “ele é tão lindo”.

Ele adora o episódio em que os dois meninos se beijam. Meu filho chama as pessoas que estão em outros cômodos pra ter certeza de que não perderão "sua parte favorita”. Ele volta o video e assiste de novo… e obriga os outros a fazerem o mesmo, se achar que as pessoas não prestaram atenção suficiente.

Essa obsessão não preocupa a mim e a seu pai. Nós vivemos em uma vizinhança liberal, muitos de nossas amigos são gays e a ideia de ter um filho gay não é algo que nos preocupa. Nosso filho vai ser quem ele é, e amá-lo é nosso dever. Ponto final.

E também, ele tem seis anos. Crianças nessa idade ficam obcecadas com todo tipo de coisa. Isso pode não significar nada. Nós sempre brincamos que ou ele é gay ou nós temos a melhor chantagem na história da humanidade quando ele tiver 16 anos e for hétero. (Toma essa, fotos tomanho banho.)

E então, dia desses estávamos viajando para outra cidade ouvindo (é claro) o CD dos Warblers, e no meio da música Candles, meu filho, do banco de trás, fala:

“Mamãe, Kurt e Blaine são namorados.”
“São sim,” eu confirmo.
"Eles não gostam de beijar meninas. Eles só beijam meninos.”
“É verdade.”
“Mamãe, eles são iguais a mim.”
“Isso é ótimo, querido. Você sabe que eu te amo de qualquer forma?”
“Eu sei…” Eu podia ouví-lo rolando os olhos pra mim.

Quando chegamos em casa, eu contei da conversa para o pai dele, e nós simplesmente olhamos um nos olhos do outro por um momento. E então, sorrimos.

“Então se aos 16 anos ele quiser fazer o grande anúncio na mesa de jantar, poderemos dizer ‘Você disse isso pra gente quando tinha 6 anos. Passe as cenouras’ e ele ficará decepcionado por roubarmos o grande momento dramático dele’, meu marido diz rindo e me abraça.

Só o tempo dirá se meu filho é gay, mas se for, estou feliz que ele seja meu. Eu estou feliz que ele tenha nascido na nossa família. Uma família cheia de pessoas que o amarão e o aceitarão. Pessoas que jamais vão querer que ele mude. Com pais que não veem a hora de dançarem no casamento dele.

E eu tenho que admitir, Blaine seria realmente um genro fofo.

(postado em 15/08/11, original aqui)

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São duas e meia da manhã e eu estou olhando para a tela do computador. Dentro de cerca de quatro horas eu preciso estar acordada pra levar meu filho pra escola e ir pro trabalho. Ao invés disso, estou quebrando a cabeça tentando descobrir o que dizer para um adolescente cujos pais estão fazendo de sua vida um inferno.

Minha vida não foi sempre assim.

Eu escrevi o que eu achava que era uma pequena história fofa e inocente sobre meu filho mais velho e seu amor por um personagem de um programa popular de televisão, e como isso acabou o levando a me contar que ele queria beijar meninos e não meninas. Eu, ingenuamente, coloquei isso na Internet, pensando que talvez alguns fãs da série ou do ator achariam fofo também.

12 horas depois, essa história foi “curtida” e reblogada mais de 20 mil vez.
24 horas depois, foi colocada na página inicial do Out.com.
36 horas depois, Dan Savage estava blogando sobre ela.
48 depois, o Trevor Project posta sobre ela no Facebook.

Foi impressionante. Mais que isso, foi de quebrar o coração. Por causa de toda a exposição, vieram comentários e uma caixa de entrada cheia.

Eu consigo lidar com comentários negativos. Pessoas dizem que meu filho é muito novo para assistir à série. Que eu não deveria estar escrevendo sobre meu filho sendo ele tão novo. Que minhas piadas são ruins. Eu consigo olhar pra tudo isso imparcialmente e concordar que eles tem alguma razão (ainda que eu nem sempre concorde).

O que eu não consigo lidar é com centenas de pessoas dizendo que gostariam que eu fosse a mãe deles. Centenas de pessoas me dizendo que eu mereço prêmios. E, pior, pessoas dizendo que eu sou uma mãe perfeita.

Eu simplesmente não sou tão legal assim.

Eu me esforço pra ser uma boa mãe, mas eu não estou nem entre as 25 melhores mães que conheço. Eu sou aquela mãe que fala irritantemente alto. Eu nunca nem tentei ler um livro sobre bebês. Eu danço ska com meu marido no meio de lojas quando estou entediada e faço meus filhos desejarem morrer de tanta vergonha. E isso é só o começo.

Mas aí estão todas essas pessoas online dizendo quão boa eu sou. E o que eu fiz? Eu disse que amava meu filho incondicionalmente. Isso é algo tão raro que as pessoas precisam parar pra falar sobre? Eu não pensava assim, mas agora começo a me perguntar.

Porque a parte que realmente quebra meu coração são as mensagens na minha caixa de entrada. Aquelas que vêm de crianças cujos pais evidentemente falharam na parte mais importante de ser pai ou mãe: de fato amar seu filho. Os comentários são simples e devastadores, e quase sempre terminam da mesma forma: me agradecendo por amar meu próprio filho.

Eu respondo a todos, no escritório enquanto deveria estar trabalhando, e tarde da noite no sofá quando eu deveria ter ido dormir há horas. Não responder não é uma opção para mim. Eu preciso fazê-lo. Eu preciso que essas crianças saibam que eu li suas palavras. Que eles merecem o melhor. Que eles significam algo pra mim.

Não é tudo ruim. Um garoto de 14 anos me disse que acabou de sair do armário para os pais. Eu respondi parabenizando-o e perguntei como foi. E então eu sentei, ansiosa, esperando que ele respondesse, e ele apareceu um minuto depois dizendo que “tudo correu muito bem!”.

Mas infelizmente, os comentários que me fazem sorrir e rir são uma minoria. A maioria deles são como o que eu estou vendo nesse momento. Uma criança de coração partido que deseja desesperadamente que sua mãe pare de lhe dizer coisas horríveis. Um menino que deseja que sua mãe ainda o ame.

Eu vou achar alguma coisa pra dizer pra ele, mas eu sei que não vai ser o suficiente.

Eu quero viver em um mundo onde aquela histórinha boba que eu escrevi não tem nada de especial, é apenas uma bobagem sobre um garotinho e seu amor por um garoto de blazer.

(postado em agosto, original aqui)

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No dia 16 de agosto eu aprendi o significado de “viral”.

Eu escrevi um texto sobre meu filho mais velho e seu amor por um popular personagem gay da televisão, o Blaine de Glee, e como sua paixonite o levou a me contar que ele queria beijar garotos e não garotas. Eu, ingenuamente, postei isso em meu blog, achando que alguns fãs da série achariam fofo.

Dentro de 24 horas ele havia sido repostado e “curtido” mais de 30 mil vezes no site do blog. Não demorou muito até que as mensagens começassem a lotar a caixa de entrada, outros sites começarem a postar e as pessoas a comentarem. A recepção pela esmagadora maioria foi positiva. O que eu pensei que era uma simples história sobre meu filho e minha família claramente tocou fundo em muitas pessoas.

Também deixou muitas pessoas desconfortáveis. Das críticas, a mais comum é que meu filho tem seis anos de idade e não sabe nada sobre sexo. Ainda que eu tenha certeza de que isso não diz nada de definitivo a respeito da orientação sexual do meu filho, eu rejeito a ideia de que ser gay diz respeito apenas a atos sexuais. Nossas emoções e sentimentos, nossas atrações e compulsões, tudo contribui, não apenas as partes do nosso corpo. Se meu filho estivesse apaixonado pela atriz principal de iCarly, eu duvido que as pessoas diriam que ele é muito jovem pra ter sentimentos sexuais por uma garota. Eu acredito que pensariam que é apenas uma paixonite inocente de menino, o que é exatamente o que isso é. Além disso, pra cada comentário que eu lia dizendo que meu filho era muito novo, havia vários outros de adultos dizendo “eu também sabia quando era pequeno”.

Isso tudo me fez pensar e depois de um tempo eu comcei a sentir como se eu soubesse um grande segredo que não deveria de maneira alguma ser um segredo:todo adulto gay foi uma criança gay. Não é como se todas as crianças começassem héteros até que algum tempo depois alguém ligasse o “botão gay”.

As palavras horríveis e cheias de ódio das Michelle Bachmann da vida são levadas a um novo nível de repugnância quando as imaginamos sendo gritadas a um grupo de crianças na pré-escola ou primeira série. Eles são anti-naturais. Eles são pecadores. Eles vão pro inferno. Eles são sujos, errados e doentes.

Essas pessoas diriam para o meu garotinho inocente (que no momento quer ser um bombeiro-ninja quando crescer) que ele é a maior ameaça existente para a família americana… porque ele quer beijar meninos e não meninas.

A realidade é que eles estão enfiando essas palavras de ignorância e ódio na cabeça de crianças gays todos os dias. E essas crianças estão ouvindo isso. Eu sei porque muitas dessas crianças agora estão me escrevendo. Crianças de 14 anos me mandaram mensagens. Tantas delas são crianças assustadas, que obviamente não escolheram isso pra si mesmas, vivendo com medo de que suas famílias descubram porque sabem o que seu pai e sua mãe vão dizer. E eles me dizem que gostariam que eu fosse a mãe deles.

Eu quero deixar toda essa conversa, todas essas mentiras, todo esse ódio, longe dessas crianças. Claro, há um problema inerente nisso. Nós não podemos saber quem são as crianças gays só de olhar, e comportamento não é um indicador preciso (algumas meninas héteros são “moleques” e alguns meninos gays adoram brincar de carrinho). A única maneira de saber a orientação sexual de alguém é a pessoa nos contando, o que para alguns não acontece até a vida adulta.

Então, a solução é óbvia pra mim. Manter isso longe de todas as nossas crianças. É minha responsabilidade como mãe, como ser humano, levantar e dizer “basta”. Não, você não pode dizer essas coisas na frente dos meus filhos, a menos que você queira lidar comigo. Porque eu não vou permitir que nenhum dos meus filhos seja maldosmente atacado sem que eu os defenda. Eles nunca terão que duvidar sequer por um segundo pelo quê seus pais lutam, e nunca terão que viver com medo de quem são.

Porque desde 16 de agosto, eu aprendi que ódio é o vírus com qual temos que nos preocupar.

(postado em 03/10/11, original aqui - ênfases minhas)

(Quem quiser postar esses textos em outro lugar, não esquece de dar créditos e linkar pro Minoria é a Mãe, ok? E se puder, avisa pra gente ficar feliz.)


Fonte: http://minoriaeamae.blogspot.com/2012/01/todo-adulto-gay-foi-uma-crianca-gay.html

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Um gênio: mais espessa q a árvore! - João Cabral de Melo neto!

I. Paisagem do Capibaribe

A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.

O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão,
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.

Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.

Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.
Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos polvos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.

Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.

Abre-se em flores
pobres e negras
como negros.
Abre-se numa flora
suja e mais mendiga
como são os mendigos negros.
Abre-se em mangues
de folhas duras e crespos
como um negro.

Liso como o ventre
de uma cadela fecunda,
o rio cresce
sem nunca explodir.
Tem, o rio,
um parto fluente e invertebrado
como o de uma cadela.

E jamais o vi ferver
(como ferve
o pão que fermenta).
Em silêncio,
o rio carrega sua fecundidade pobre,
grávido de terra negra.

Em silêncio se dá:
em capas de terra negra,
em botinas ou luvas de terra negra
para o pé ou a mão
que mergulha.

Como às vezes
passa com os cães,
parecia o rio estagnar-se.
Suas águas fluíam então
mais densas e mornas;
fluíam com as ondas
densas e mornas
de uma cobra.

Ele tinha algo, então,
da estagnação de um louco.

Algo da estagnação
do hospital, da penitenciária, dos asilos,
da vida suja e abafada
(de roupa suja e abafada)
por onde se veio arrastando.

Algo da estagnação
dos palácios cariados,

comidos
de mofo e erva-de-passarinho.
Algo da estagnação
das árvores obesas
pingando os mil açúcares
das salas de jantar pernambucanas,
por onde se veio arrastando.

(É nelas,
mas de costas para o rio,
que "as grandes famílias espirituais" da cidade
chocam os ovos gordos
de sua prosa.
Na paz redonda das cozinhas,
ei-las a revolver viciosamente
seus caldeirões
de preguiça viscosa).

Seria a água daquele rio
fruta de alguma árvore?
Por que parecia aquela
uma água madura?

Por que sobre ela, sempre,
como que iam pousar moscas?

Aquele rio
saltou alegre em alguma parte?
Foi canção ou fonte
Em alguma parte?

Por que então seus olhos
vinham pintados de azul
nos mapas?


II. Paisagem do Capibaribe

Entre a paisagem
o rio fluía
como uma espada de líquido espesso.
Como um cão
humilde e espesso.

Entre a paisagem
(fluía)
de homens plantados na lama;
de casas de lama
plantadas em ilhas
coaguladas na lama;
paisagem de anfíbios
de lama e lama.

Como o rio
aqueles homens
são como cães sem plumas
(um cão sem plumas
é mais
que um cão saqueado;
é mais
que um cão assassinado.

Um cão sem plumas
é quando uma árvore sem voz.
É quando de um pássaro
suas raízes no ar.

É quando a alguma coisa
roem tão fundo
até o que não tem).

O rio sabia
daqueles homens sem plumas.
Sabia
de suas barbas expostas,
de seu doloroso cabelo
de camarão e estopa.

Ele sabia também
dos grandes galpões da beira dos cais
(onde tudo
é uma imensa porta
sem portas)
escancarados
aos horizontes que cheiram a gasolina.

E sabia
da magra cidade de rolha,
onde homens ossudos,
onde pontes, sobrados ossudos
(vão todos
vestidos de brim)
secam
até sua mais funda caliça.

Mas ele conhecia melhor
os homens sem pluma.
Estes
secam
ainda mais além
de sua caliça extrema;
ainda mais além
de sua palha;
mais além
da palha de seu chapéu;
mais além
até
da camisa que não têm;
muito mais além do nome
mesmo escrito na folha
do papel mais seco.

Porque é na água do rio
que eles se perdem
(lentamente
e sem dente).
Ali se perdem
(como uma agulha não se perde).
Ali se perdem
(como um relógio não se quebra).

Ali se perdem
como um espelho não se quebra.
Ali se perdem
como se perde a água derramada:
sem o dente seco
com que de repente
num homem se rompe
o fio de homem.


Na água do rio,
lentamente,
se vão perdendo
em lama; numa lama
que pouco a pouco
também não pode falar:
que pouco a pouco
ganha os gestos defuntos
da lama;
o sangue de goma,
o olho paralítico
da lama.

Na paisagem do rio
difícil é saber
onde começa o rio;
onde a lama
começa do rio;
onde a terra
começa da lama;
onde o homem,
onde a pele
começa da lama;
onde começa o homem
naquele homem.


Difícil é saber
se aquele homem
já não está
mais aquém do homem;

mais aquém do homem
ao menos capaz de roer
os ossos do ofício;
capaz de sangrar
na praça;

capaz de gritar
se a moenda lhe mastiga o braço;
capaz
de ter a vida mastigada
e não apenas
dissolvida

(naquela água macia
que amolece seus ossos
como amoleceu as pedras
).

III. Fábula do Capibaribe

A cidade é fecundada
por aquela espada
que se derrama,
por aquela
úmida gengiva de espada.

No extremo do rio
o mar se estendia,
como camisa ou lençol,
sobre seus esqueletos
de areia lavada.

(Como o rio era um cachorro,
o mar podia ser uma bandeira
azul e branca
desdobrada
no extremo do curso
— ou do mastro — do rio
.

Uma bandeira
que tivesse dentes:
que o mar está sempre
com seus dentes e seu sabão
roendo suas praias
.

Uma bandeira
que tivesse dentes:
como um poeta puro
polindo esqueletos,
como um roedor puro,
um polícia puro
elaborando esqueletos
,
o mar,
com afã,
está sempre outra vez lavando
seu puro esqueleto de areia
.

O mar e seu incenso,
o mar e seus ácidos,
o mar e a boca de seus ácidos,
o mar e seu estômago
que come e se come
,
o mar e sua carne
vidrada, de estátua,
seu silêncio, alcançado

à custa de sempre dizer
a mesma coisa,
o mar e seu tão puro
professor de geometria).

O rio teme aquele mar
como um cachorro
teme uma porta entretanto aberta
,
como um mendigo,
a igreja aparentemente aberta.

Primeiro,
o mar devolve o rio.
Fecha o mar ao rio
seus brancos lençóis.
O mar se fecha
a tudo o que no rio
são flores de terra,
imagem de cão ou mendigo
.

Depois,
o mar invade o rio.

Quer
o mar
destruir no rio
suas flores de terra inchada,
tudo o que nessa terra
pode crescer e explodir,
como uma ilha,
uma fruta.

Mas antes de ir ao mar
o rio se detém

em mangues de água parada.
Junta-se o rio
a outros rios
numa laguna, em pântanos
onde, fria, a vida ferve.

Junta-se o rio
a outros rios.
Juntos,
todos os rios
preparam sua luta

de água parada,
sua luta
de fruta parada.

(Como o rio era um cachorro,
como o mar era uma bandeira,
aqueles mangues
são uma enorme fruta
:

A mesma máquina
paciente e útil
de uma fruta;
a mesma força
invencível e anônima
de uma fruta
— trabalhando ainda seu açúcar
depois de cortada —.

Como gota a gota
até o açúcar,
gota a gota
até as coroas de terra;
como gota a gota
até uma nova planta,
gota a gota
até as ilhas súbitas
aflorando alegres
).

IV. Discurso do Capibaribe

Aquele rio
está na memória
como um cão vivo
dentro de uma sala.
Como um cão vivo
dentro de um bolso.
Como um cão vivo
debaixo dos lençóis,
debaixo da camisa,
da pele.


Um cão, porque vive,
é agudo.

O que vive
não entorpece.
O que vive fere.
O homem,
porque vive,
choca com o que vive.
Viver
é ir entre o que vive.


O que vive
incomoda de vida

o silêncio, o sono, o corpo
que sonhou cortar-se
roupas de nuvens.
O que vive choca,
tem dentes, arestas, é espesso.
O que vive é espesso
como um cão, um homem,
como aquele rio.

Como todo o real
é espesso.

Aquele rio
é espesso e real.
Como uma maçã
é espessa.
Como um cachorro
é mais espesso do que uma maçã.
Como é mais espesso
o sangue do cachorro
do que o próprio cachorro.

Como é mais espesso
um homem
do que o sangue de um cachorro.
Como é muito mais espesso
o sangue de um homem
do que o sonho de um homem.


Espesso
como uma maçã é espessa.
Como uma maçã
é muito mais espessa
se um homem a come

do que se um homem a vê.
Como é ainda mais espessa
se a fome a come.

Como é ainda muito mais espessa
se não a pode comer
a fome que a .


Aquele rio
é espesso
como o real mais espesso.
Espesso
por sua paisagem espessa,
onde a fome
estende seus batalhões de secretas
e íntimas formigas.


E espesso
por sua fábula espessa;
pelo fluir
de suas geléias de terra;
ao parir
suas ilhas negras de terra.

Porque é muito mais espessa
a vida que se desdobra
em mais vida,

como uma fruta
é mais espessa
que sua flor;
como a árvore
é mais espessa
que sua semente;
como a flor
é mais espessa
que sua árvore,
etc. etc.


Espesso,
porque é mais espessa
a vida que se luta
cada dia,
o dia que se adquire
cada dia
(como uma ave
que vai cada segundo
conquistando seu vôo).


( João Cabral de Melo Neto )
Hoje eu acordei árvore: nada me abala,
o vento apenas me balança e pra me tirar
daqui vai ter de chamar o bombeiro.

Milena Leão

domingo, janeiro 22, 2012

A educação pela pedra

Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, freqüentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições da pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.

*
Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.


João Cabral de Melo neto

Ladainha, sorte, palavras

"As pessoas que resolviam as coisas em geral tinham muita persistência e um pouco de sorte. Se a gente persistisse o bastante, a sorte em geral chegava. Mas a maioria das pessoas não podia esperar a sorte, por isso desistia."

Charles Bukowski



"Talvez a miséria tenha realmente chegado. Não se pode viver da própria alma. Não se pode pagar o aluguel com a alma." Bukowski



"Já vi cães com mais estilo que homens." Bukowski



"Alguns cavalos gostam de correr sozinhos." Bukowski



"Você nem sabe a sorte que tem de ser feio. Assim, quando alguém simpatiza contigo, já sabe que é por outra razão." Bukowski



"O problema com o mundo é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, enquanto os estúpidos estão cheios de confiança." Bukowski



‎"Essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura."
Charles Bukowski



"Não existe melhor espetáculo que os outros, e nem é preciso pagar entrada." Bukowski



"Minha ladainha me sustenta"
Asas do Desejo

segunda-feira, janeiro 16, 2012

Muitas fotos da UFRRJ nesta página!

Muitas fotos da UFRRJ nestas páginas!


Fotos artísticas:
http://flickriver.com/places/Brazil/Rio+de+Janeiro/Serop%C3%A9dica/

Fotos atuais de quase todos os prédios:
http://especiais.universia.com.br/ufrrj100anos/galeria-de-imagens/fotos-atuais-da-ufrrj

Quem aproveita Seropédica: horta, cerveja, refrigerante e champagne artesanais, salada orgânica... um barato!

Tiago segurando a acelga chinesa (uma das espécies plantadas), sua verdura preferida.

Na casa da Fabi (minha irmã) e do Tiago em Seropédica, no Rio de Janeiro, vimos a horta deles (muito melhor e mais bem cuidada que a nossa), as plantas, coleção de cactos, parafernália para fazer a cerveja artesanal (tomamos muitas), coleção de cuias de coités trazidos da Amazônia, armadilhas em miniaturas para animais de grande porte e tivemos até aulas sobre agricultura de subsistência.

Fabi explicando detalhadamente sobre as plantas que eles na casa (em Seropédica).

Comemos uma saladona feita destas verduras da horta. Estava uma delícia.

Tambores que fazem parte do kit da cerveja artesanal. É bem difícil de se preparar.

Cuias de coité trazidos da Amazônia. Elas são pintadas com a casca de uma planta.

Coleção de cactos do Tiago.

Peixe feito de palha. Bem legal, um dia vamos tentar fazer um destes.

Aprendemos também a fazer refrigerante/champagne artesanal. Vamos tentar fazer o de limão na chácara, não sei se vai dar certo. Se der, vamos preparar um mojito especial.


Fonte: http://blogviagens.com/2011/06/seropedica-rio-de-janeiro/

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Posso CONSTRUIR minha opinião? Permita-me não saber!

O pessoal não sabe mais construir opinião junto. Quer só saber d "debate". Preciso estar segura do meu ponto primeiro, não? Me irritam as "análises", a "sua questão" como se tudo fosse pessoal, sem eco numa história d mundo!! Vc tem q entrar no furacão com uma idéia perfeita, feita, complexa, com TODAS AS EXPLICAÇÕES do MUNDO ao invés d compartilhar (incluindo perguntas q vc fez naquele dia, no seu estágio, e não houve resposta!). No meio d uma idéia q estas tentando construir alguém ainda vem TE dizer o q VOCÊ acha!!

Desculpe mesmo, mas meu funcionamento não permite reflexão sem compreensão! Se vacilar (tipo parar pra pensar, sabe?) o argumento enfraquece e em questão d horas lá se foi a razão!! De repente tudo q vc defende se volta contra vc d forma muito simplista. Até parece q não somos tb fruto de uma época (com tantas coisas q queremos mudar, sim, mas, ainda sim, fruto dela! Tendo q dialogar com ela!!!). Mas entre mortos e feridos salvaram-se TODOS!!

Nenhuma analogia nunca será perfeita. É só uma analogia. Vamos perdoar!! As palavras são frágeis!

Pra alegrar! hehehee
http://thirinhas.wordpress.com/2009/07/24/nova-estrategia/


Tirinha:
Mudança de estratégia

"Vamos mudar o mundo (Cristo, Gandhi, Luthr King, Lennon)
nem que seja na porrada!"

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Lidando com as leis - Thoreau e a ocupação da plenária contra as OS's

"Leis injustas existem: devemos contentar-nos em obedecermos a elas ou esforçar-nos em corrigi-las, obedercer-lhes até triunfarmos ou transgredi-las desde logo?

Num governo como este os homens geralmente pensam que devem esperar até que a maioria seja persuadida a alterá-las. Pensam que, se resistissem ao governo o remédio seria pior que o mal. Mas é culpa do próprio governo que o remédio seja, efetivamente, pior que o mal. É eela que o torna pior. Por que ele não está mais apto a antecipar e prpiciar a reforma? (...) Por que não encoraja seus cidadão a prontamente apontarem os seus defeitos e a agirem melhor do que ele lhes pede? Por que sempre crucifica Cristo, excomunga Copérnico e Lutero, e declara Washington e Franklin rebeldes?" p 25 - Desobediência Civil - Henri David Thoreau

Isso me lembra a ocupação da plenária na votação das OS´s em Niterói dia 29.12.2011. Mas a lei permitiu que a reunião fosse transferida para um auditório vedado a participação do PÚBLICO e permitiu q fosse negado a audiência PÚBLICA pedida para abrir a questão a informação e debate POPULAR. Público, pública, popular, político... de repente as palavras parecem perder seu sentido...

Essa linha de raciocínio apresentada realmente tb parece impossível quando se tem um partido com uma intenção já muito planejada. Faz com q eu questione tb como são feitas essas legendas? Qual a proximidade com o popular? Em quanto é considerado a opinião pública pra mudar os planos se preciso? Os partidos tem condição de fazer isso?

Thoreau

"Como pode um homem satisfazer-se com apenas ter uma opinião e deleitar-se com ela?" - p 24 - Desobediência Civil - Henri David Thoreau

Su: É quando a paz não produz nada e poucas coisas importam a nível de mundo.



"Vim a esse mundo não, principalmente, para fazer dele um lugar bom pra se viver, mas para viver nele, seja bom ou mau. Um homem não tem q fazer tudo, mas algo, e não é porque não pode fazer tudo que precisa fazer este algo de maneira errada. p27 - Desobediência Civil - Henri David Thoreau [Segundo uma noção de errado]

Su: Estar nesse mundo não é uma opção, é uma condição. A megalomania as vezes nos impede de agir. Nos impede de ver o q é possível fazer hoje. O q vamos fazer hj para mudar o nosso mundo e, quiçá, o resto do mundo, um dia?



"... qualquer homem mais justo que seus semelhantes já constitui uma maioria de um. p28 - Desobediência Civil - Henri David Thoreau - [Quando você opta por ser justo segundo uma noção de justiça]

Su: Qualquer esforço vale a pena se é importante pra vc. Seja "especial".



"...não importa o quão limitado possa parecer o começo: aquilo que é bem feito uma vez está feito para sempre. p29 - Desobediência Civil - Henri David Thoreau

Su: A tentativa é a vitória possível.



"Uma minoria é impotene enquanto se conforma à maioria, nem chega a ser uma minoria então, MAS torna-se irresistível quando se põe a obstruir com todo o seu peso. - p31 - Desobediência Civil - Henri David Thoreau

Su: Vamos nos organizar. O mundo inteiro é muita coisa. O que é possível fazer? Quem são nossos aliados hoje? Outro mundo pode coexistir ou suplantar esse atual.

terça-feira, janeiro 03, 2012

Face...

Me sinto sol, me sinto sol
me sinto tão meu
me sinto tão, me sinto sol
sol tb seu

uouô-ôô
· · · há 2 segundos próximo a Rio de Janeiro

Into my feice!

O racional não é o principal MESMO. De nada vale uma vida q não t faz SENTIR. [MAs o racional pode te enganar que pensar seja o suficiente]
"não preciso saber da relação, só do prazer é o que interessa"
· · há ± 1 hora próximo a Rio de Janeiro



...toda vida exige criatividade
Eu quase surtei uma duas vezes já, sabe?
Mas acho normal!
A vida tb é chata, tb dói, tb é ruim. Mas tb é boa!
Tem q correr atrás! deixar os pequenos momentos crescerem!
· · há 53 minutos próximo a Rio de Janeiro

Resposta:
"A vida tb é chata, tb dói, tb é ruim. Mas tb é boa!"
isso não é a vida, mas sim o seu joelho se manifestando...
há 53 minutos ·

o

‎...Nada contra. Hj pra mim é uma noite intensamente calma e feliz... Só q as noites calmas tem q ser boas. Não como as noites agitadas, mas como as noites agitadas tb são boas.
· · há 16 minutos próximo a Rio de Janeiro



MAs é q eu sou mt fantasiosa e acredito com mais facilidade no q eu acho dos outros! Minha auto-estima depende da minha fantasia mais do q da realidade!
· · há 15 minutos próximo a Rio de Janeiro



Acho q a gente tem q ser menos ocidental!
Esse ideal d felicidade só nos leva ao frenético!
A gente quer tocar em tudo e não sente mais os dedos, saca?

Estou cansada do currículo ocidental.
Quero uma comunidade alternativa. A tentativa me fará feliz, ainda q não seja o q eu esperava. Tentar é preciso. Pra sempre.
· · há 4 minutos próximo a Rio de Janeiro



Tem coisas q só o outro pode te dar... e é mais fácil ter do outro do q de vc mesmo. Pode não custar nada ao outro, a não ser o preço do encontro. Sozinho pode ser preciso ficar. Mas sozinho sempre por quê?
· · alguns segundos atrás próximo a Rio de Janeiro



Todo mundo é parecido quando sente dor.

(Mas nu e só ao meio-dia, só quem está pronto pro amor! O poeta não morreu, foi ao inferno e voltou...)

O Poeta está Vivo - Frejat
· · alguns segundos atrás próximo a Rio de Janeiro

segunda-feira, janeiro 02, 2012

O Natal dos Deus Cristãos - a história q não é tão divina assim!




O Natal dos Deus Cristãos

As primeiras manifestações de religiosidade do Homem relacionavam-se com o culto das forças da natureza e, mais ainda do que de uma explicação divina para uma «vida depois da morte», elas nasceram do temor e da falta de compreensão para os fenómenos naturais, desde o vento à chuva ou aos relâmpagos, até à própria periodicidade dos ciclos solar ou lunar. - [SuN: mas é a vida e a morte q mais continuam sendo um mistério hj, q o humano acha q já tem resposta pra todos os funcionamentos da natureza! Ainda sim, só com muita oração tenta interferir na trajetória dos raios e na amortização das chuvas a nível popular! hehehe]

É por isso absolutamente normal que o Homem, animista nas suas origens religiosas, fosse também natural e quase geneticamente politeísta.
O desenvolvimento e a evolução do Homem vieram ao longo de milhares de anos trazer uma maior complexidade aos seus cultos religiosos, sempre com uma natureza politeísta.

No entanto, nalgumas civilizações da antiguidade ainda assistimos a tentativas mais ou menos sucedidas de unificação de divindades, embora normalmente protagonizadas por sacerdotes ou por governantes mais interessados na unificação e no poder temporal que daí poderia resultar.

O crescente desenvolvimento do cristianismo encontrou no Império Romano uma população de uma profunda religiosidade e, também por isso, uma riquíssima mitologia, com deuses para todos os gostos, feitios e ocasiões.

De tal modo, que em determinada altura o próprio Imperador Constantino (também influenciado pela sua própria mulher, Santa Helena, entretanto convertida) acabou por achar melhor adoptar o sábio princípio: «se não os podes vencer, junta-te a eles».

Sem nunca se ter convertido, Constantino acabou por tolerar o cristianismo e, juntamente com Licínio, o tetrarca Oriental (a quem escassos onze anos mais tarde mandou matar, assim tomando o controle de todo o Império Romano) assinou em 313 o Édito de Milão, que proclamava a independência do Império em relação a quaisquer credos religiosos, fazendo devolver aos cristãos as propriedades e os lugares de culto confiscados.

A partir de então, em todo o Império Romano o cristianismo convive pacificamente com a religião tradicional pagã (no sentido de religião politeísta ou não cristã, embora a designação se aplique também às religiões distintas da judaica, que também beneficiou desta tolerância e convivência pacífica inter-religiosa).

Mas muito havia para esclarecer, explicar e estabelecer nessa nova religião que era o cristianismo.
Até que no ano 325 Constantino convoca o Concílio de Niceia.
Com a presença de mais de 300 bispos (nomeados por líderes religiosos locais e pelo próprio Constantino), o primeiro concílio ecuménico ? que marca o início da Igreja Católica ? visava antes de mais condenar o «Arianismo», uma heresia que nega a divindade de Jesus Cristo.

O «mistério» da Santíssima Trindade encontra nesta concílio as bases da sua fundamentação, com a aprovação pela maioria dos bispos presentes (e não pela sua unanimidade, tendo ficado célebres as perseguições de Constantino aos bispos discordantes) da ideia de que Jesus é da mesma ?substância? e da mesma ?essência?, isto é, a mesma entidade existente do Pai.
Ou seja, haveria somente um Deus e não dois: a distinção entre o Pai e o Filho está dentro da «unidade divina».

O Filho é Deus no mesmo sentido em que o Pai o é.
O próprio «Credo» de Constantino, saído do Concílio de Niceia, reconhece a divindade de Jesus Cristo, dizendo que o Filho e o Pai são ?de uma única substância? e que o Filho é «gerado», (único gerado, ou unigénito), mas não no sentido de «feito».

Desesperado para encontrar uma nova religião de massas através da qual pudesse controlar o povo, é no concílio de Niceia que Constantino molda o cristianismo a seu bel-prazer e ora faz inscrever ora faz abolir da Bíblia os textos e os evangelhos que acha mais apropriados, re-escrevendo-os e adaptando-os às suas políticas e aos seus interesses e depurando-os de contradições entre si.

Foi no Concílio de Niceia que foi decidido quais os evangelhos que tinham sido inspirados pelo Espírito Santo e que, por isso, eram os únicos dignos de figurar na Bíblia, os «evangelhos canónicos», por oposição aos evangelhos indignos dessa honra, conhecidos por «evangelhos apócrifos» ou «gnósticos».


Várias são as versões que contam como se deu a separação entre os evangelhos canónicos e apócrifos:
Há quem diga que, durante o Concílio, estando os bispos em oração, os evangelhos inspirados foram depositar-se no altar por si só.
Uma outra versão relata que todos os evangelhos foram colocados por sobre o altar, e os apócrifos caíram ao chão...
Outra ainda afirma que o Espírito Santo entrou no recinto do Concílio em forma de pomba e foi pousando no ombro direito de cada bispo, segredando aos seus ouvidos os evangelhos inspirados.

Depois, e na melhor tradição do costume babilónico da deificação do rei ou do imperador, foi com uma habilidade notável que Constantino aproveitou as festas, os costumes e os princípios pagãos e judaicos, já conhecidos e tradicionais no Império, para os adaptar e criar a doutrina desta nova religião, em progressivo crescimento e implantação popular.
Exemplo paradigmático disso é a festa pagã do Solstício de Inverno, adaptada ao Natal e às comemorações do nascimento de Jesus Cristo.


Esta nova Igreja, a Igreja Católica fundada no Concílio de Niceia («Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica...») está, pois, bem longe de ser a «Igreja Primitiva dos Apóstolos» e, obviamente, não foi fundada por Pedro.
Poderá até dizer-se que o seu primeiro Papa foi Constantino.

Quando morreu, em 337, Constantino foi baptizado e enterrado como um verdadeiro décimo terceiro Apóstolo, e na iconografia eclesiástica, veio a ser representado recebendo a coroa das mão de Deus. [SuN: quem crê na bíblia deveria saber e crer nisso, não?]

Mais tarde, já com Teodósio, o cristianismo haveria de tornar-se a religião oficial do Império, institucionalizando-se profundamente na sociedade romana e constituindo um polo de união comum a todos os territórios conquistados, surgindo o profissionalismo religioso e toda uma estrutura teológica e uma casta sacerdotal dominante, que se impunha aos fiéis proclamando de forma rígida e autoritária que «fora da Igreja não há salvação».

Quase dezessete séculos depois do Concílio de Niceia comemora-se uma vez mais o Solstício de Inverno, transformado habilmente por Constantino nas comemorações do nascimento do Deus dos cristãos.

O Concílio de Niceia foi de tal modo primordial para o cristianismo ? e para a religião católica em particular ? que ainda hoje os seus fundamentos e princípios doutrinais e filosóficos são precisamente os mesmos que foram inventados por Constantino.

Até é precisamente o mesmo o raciocínio e o hábil jogo de palavras que faz passar o cristianismo por... uma religião monoteísta.

De facto, é através de um mero jogo de palavras a que chama um «Mistério», isto é, um dogma que não tem explicação possível, que esta religião persiste em fazer-se passar como «uma das três grandes religiões monoteístas do mundo».

Mas que de monoteísta nada tem!

Só deuses tem três: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.


Podem os mais fiéis defensores do «Mistério da Santíssima Trindade» dizer que estes três deuses são, afinal, um só.
Mas o que é facto é que eu conto três: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Quanto ao Deus «Espírito Santo», que à boa maneira cristã é de formulação masculina, sempre se diga ainda que, com a sua atitude típica e persistentemente misógina, os católicos perderam a oportunidade de tornar a sua origem e a sua explicação bem mais interessante.
Poderiam, por exemplo, ter dado mais atenção ao apóstolo Filipe que nos transmitiu no seu evangelho gnóstico, excluído por Constantino da honra de figurar na Bíblia entre os evangelhos canónicos:

Alguns dizem que Maria concebeu do Espírito Santo.
Erram, não sabem o que dizem.
Quando é que uma mulher concebeu de uma mulher?

A explicação para este aparente contra-senso é bem simples:
É que em grego, língua original em que foram escritos os evangelhos e até em copta, o idioma para que foram em primeiro lugar traduzidos antes de transpostos para os idiomas actuais, «Espírito Santo»... é do género feminino!
E assim, com uma simples mudança do género de uma palavra numa tradução, a Igreja Católica perdeu a oportunidade de respeitar a «Santíssima Trindade» na formulação original de «Sagrada Família», isto é, de Pai, Mãe e Filho.

Depois, a estes três deuses acresce a mãe do Deus Filho.
De tal modo deificada que, tal como Jesus Cristo, e apesar falta de sustentação bíblica para tal, foi feita subir ao Céu em corpo e alma após a sua morte terrena.
E já vão quatro!

De tal forma que, assumindo várias personalidades consoante as regiões geográficas, e multiplicando-se como que para afirmar o politeísmo cristão, a Nossa Senhora de Fátima, ou de Lourdes, ou a Virgem Negra polaca, ou a Virgem de Guadalupe sul-americana, concorrem mesmo com os três principais deuses na devoção dos cristãos.
Diz-se mesmo que o Papa João Paulo II, conhecido como «devoto mariano», mais que aos seus próprios patrões rezava à mãe do Deus Filho.

Depois, aparecem os santos. Que se contam aos milhares!
E que são tão deuses como os outros deuses, pois com eles concorrem na adoração dos fiéis cristãos e como eles são omnipotentes e omnipresentes.

E não é essa a definição de «Deus»?

De tal modo, que em todos os cristãos existe um «santo de devoção», frequentemente corporizado numa imagem ou num ícone, a quem se pede um favor, uma graça, ou «uma cunha» para um emprego, para a cura de uma doença ou para um prémio no Euromilhões.

Foi também com um hábil jogo de palavras que o Segundo Concílio de Niceia (o sétimo Concílio Ecuménico), realizado no ano de 787, distinguiu o que é «adoração» do que é «veneração».
E estipulou que pedinchar uma coisa a um Deus, se chama «adorar»; e que pedinchar a mesma coisa a um santo se chama «venerar».
Embora os resultados previsíveis da pedinchice sejam basicamente os mesmos.

Não admira, pois, que os cristãos, com um folclore, uma mitologia e uma iconoclastia tão rica, sejam tão preocupados e cuidadosos a celebrar o Natal.

A Bíblia sagrada.. e a Confederação de Niceia?

A Bíblia sagrada.. e a Confederação de Niceia?

Desesperado para encontrar uma nova religião de massas através da qual pudesse controlar o povo, é no concílio de Niceia que Constantino molda o cristianismo a seu bel-prazer e ora faz inscrever ora faz abolir da Bíblia os textos e os evangelhos que acha mais apropriados, re-escrevendo-os e adaptando-os às suas políticas e aos seus interesses e depurando-os de contradições entre si.

Foi no Concílio de Niceia que foi decidido quais os evangelhos que tinham sido inspirados pelo Espírito Santo e que, por isso, eram os únicos dignos de figurar na Bíblia, os «evangelhos canónicos», por oposição aos evangelhos indignos dessa honra, conhecidos por «evangelhos apócrifos» ou «gnósticos».

http://mitologiagregaeromana.zip.net/

Lidem com o vazio!

Zé Ninguém - já ganhei emprego, perdi o sono, lá fui atrás do sonho q não era meu!

Zé ninguém

Thiago Correa


Eu já usei gravata e até topete
Joguei fora o meu trompete e os discos do Alceu
E os discos do Alceu

Eu já ganhei emprego e perdi o sono
Correndo atrás de um sonho que não era meu

Que não era meu

Eu já usei gravata e até topete
Joguei fora o meu trompete e os discos do Alceu
E os discos do Alceu

Eu já ganhei emprego e perdi o sono
Correndo atrás de um sonho que não era meu

Mas hoje eu larguei tudo e virei poeta
Não quero ser atleta, nem médico ou Juiz
Moro numa ilha e to me acostumando
Pra quem nasceu chorando
Até que eu to feliz

Pra mim não faz diferença
Ser alguém na vida
Porque meu nome é Zé Ninguém

Pra mim não faz diferença
Ser alguém na vida
Porque meu nome é Zé Ninguém

Eu prefiro fazer diferença na vida de alguém
Eu prefiro fazer diferença na vida de alguém


http://letras.terra.com.br/thiago-correa/1653084/

Vídeo: