sábado, janeiro 25, 2003

História de Eros e Psiquê

Psique era a mais nova de três filhas de um rei de Mileto e era extremamente bela. Sua beleza era tanta que pessoas de várias regiões iam admirá-la, assombrados, rendendo-lhe homenagens que só eram devidas à própria Afrodite. E, de fato, os altares da deusa começavam a esvaziar-se pois o povo negligenciava seu culto para ir ver Psique.


Profundamente ofendida e enciumada, Afrodite enviou seu filho, Eros, para fazê-la apaixonar-se pelo homem mais feio e vil de toda a terra. Porém, ao ver a beleza da jovem, Eros apaixonou-se profundamente por ela. As irmãs de Psique facilmente encontraram maridos, pois também eram belas, mas Psique permaneceu sozinha, pois apesar de ser admirada por todos, havia despertado a ira de Afrodite.

Seu pai suspeitou que inadvertidamente havia ofendido os deuses, e resolveu consultar o oráculo de Apolo. Através desse oráculo, o próprio Eros ordenou ao rei que enviasse sua filha ao topo de uma solitária montanha, onde seria desposada por uma terrível serpente.

"A virgem não se destina a ser esposa de um amante mortal. Seu futuro marido a espera no alto de uma montanha. É um monstro a quem nem os deuses nem os homens podem resistir."

A jovem aterrorizada foi levada ao pé do monte e abandonada por seu pesarosos parentes e amigos, sendo conduzida com os ritos de um funeral. Conformada com seu destino, Psique foi tomada por um profundo sono, e a brisa gentil de Zéfiro a conduziu através do ar a um lindo vale.

Quando ela acordou, caminhou por entre as flores do vale e chegou até um castelo magnífico. Notou que aquele castelo deveria ser a morada de um deus, tal a perfeição que podia ver em cada um dos seus detalhes. Tomou coragem e entrou no deslumbrante palácio, onde todos os seus desejos eram satisfeitos por ajudantes invisíveis, dos quais só podia ouvir a voz. Quando chegou a escuridão, foi conduzida pelos criados a um quarto de dormir, e lá deitou-se, certa de que ali encontraria finalmente o seu terrível esposo.

Começou a tremer quando sentiu que alguém entrara no quarto, mas uma voz maravilhosa a acalmou, e mãos humanas acariciaram seu corpo. Assim, a esse amante misterioso, ela se entregou.

"Porque queres me ver? Podes duvidar de meu amor? Tens algum desejo que não foi satisfeito? Se me visses, talves iria temer-me, talvez adorar-me, mas a única coisa que peço é que me ames. Prefiro que me ames como igual que me adores como deus."

Quando acordou, já havia chegado o dia, e seu amante havia desaparecido. Porém essa mesma cena se repetiu por diversas noites. Enquanto isso, suas irmãs continuavam a sua procura, mas seu esposo misterioso a alertou para não responder aos seus chamados. Porém Psique sentia-se solitária em seu castelo-prisão, e continuamente implorava ao seu amante para deixá-la ver suas irmãs, e compartilhar com elas as maravilhas daquele castelo. Ele finalmente aceitou, mas impôs a condição que, não importando o que suas irmãs disessem, ela nunca tentaria conhecer sua verdadeira identidade.

Quando suas irmãs entraram no castelo e viram aquela abundância de beleza e maravilhas, foram tomadas de inveja, e notando que o esposo de Psique nunca aparecia, perguntaram maliciosamente sobre sua identidade. Psique sempre respondia que ele estava atarefado, mas que era um jovem muito belo. Suas irmãs retornaram para casa, mas a dúvida e a curiosidade tomavam conta de seu ser, aguçadas pelos comentários de suas irmãs. Seu esposo alertou-a que suas irmãs estavam tentando fazer com que ela olhasse seu rosto, mas se assim ela fizesse, ela nunca mais o veria novamente. Além disso, ele contou-lhe que ela estava grávida, e se ela conseguisse manter o segredo ele seria divino, porém se ela falhasse, ele seria mortal. No entanto, concedeu a ela o direito de receber novamente suas irmãs.

Em resposta a suas questões, Psique contou-lhes que estava grávida, e que sua criança seria de origem divina. Suas irmãs ficaram ainda mais enciumadas com a situação de Psique, pois além de todas aquelas riquezas, ela era a esposa de um lindo deus. Assim, trataram de convecer a jovem a olhar a identidade do esposo, pois se ele estava escondendo seu rosto era porque havia algo de errado com ele. Ele realmente deveria ser uma horrível serpente e não um deus maravilhoso.

Psique ficou realmente assustada com o que suas irmãs disseram a ela, que quando suas irmãs partiram, ela escondeu uma faca e uma lâmpada próximo a sua cama, decidida a conhecer a identidade de seu marido, e se ele fosse realmente um monstro terrível, matá-lo. Ela havia esquecido dos avisos de seu amante, de não dar ouvidos a suas irmãs.

Quando Eros chegou naquela noite, ele fez amor com ela como normalmente fazia, e virou-se para descansar ao seu lado. Psique tomou coragem e aproximou a lâmpada do rosto de seu marido, esperando ver uma horrenda criatura. O que viu porém deixou-a maravilhada. Um jovem de extrema beleza estava repousando com tamanha quietude e doçura que ela pensou em tirar a própria vida por haver dele duvidado. Enfeitiçada por sua beleza, demorou-se admirando o deus alado. Não percebeu que havia inclinado de tal maneira a lâmpada que uma gota de olho quente caiu sobre o ombro direito de Eros, acordando-o. Eros olhou-a assustado, e tentou voar através da janela do quarto. Psique inultimente tentou agarrá-lo pelas pernas, mas ele escapou.

"Tola Psique! É assim que retribuis meu amor? Depois de haver desobedecido as ordens de minha mãe e te tornado minha esposa, tu me julgavas um monstro e estavas disposta a cortar minha cabeça? Vai. Volta para junto de tuas irmãs, cujos conselhos pareces preferir ao meu. Não lhe imponho outro castigo, além de deixar-te para sempre. O amor não pode conviver com a suspeita."

Quando se recompôs, notou que o lindo castelo a sua volta desaparecera, e que se encontrava bem próxima da casa de seus pais. Psique ficou inconsolável. Tentou suicidar-se atirando-se em um rio próximo, mas suas águas a trouxeram gentilmente para sua margem. Foi então alertada por Pan para esquecer o que se passou e procurar novamente ganhar o amor de Eros.

Quando suas irmãs souberam do acontecido, figiram pesar, mas pensaram que talvez agora ele escolhesse uma delas como esposa. Partiram então para o topo da montanha na qual sua irmã havia sido deixada há muito tempo, e chamaram o vento Zéfiro, para que as sustentasse no ar e as levasse até Eros, pois era assim que sempe haviam alcançado o castelo de sua irmã. Zéfiro desta vez não as ergueram no céu, e elas caíram no despenhadeiro, morrendo.

Psique continuava sua busca por todos os lugares da terra, dia e noite, até que chegou a um templo no alto de uma montanha. Com esperança de lá encontrar o amado, entrou no templo e viu uma grande bagunça de grãos de trigo e cevada, ancinhos e foices espalhados por todo o recinto. Convencida que não devia negligenciar o culto a nenhuma divindade, pôs-se a arrumar aquela desordem, colocando cada coisa em seu lugar. Deméter, para quem aquele templo era destinado, ficou profundamente grata por ver a jovem tão ocupada em ordenar seu santuário.

"Ó Psique, embora não possa livrá-la da ira de Afrodite, posso ensiná-la a fazê-lo com suas próprias forças: vá ao seu templo e renda a ela as homenagens que ela, como deusa, merece."

Afrodite a recebeu em seu templo com a raiva estampada em sua fronte, e sabendo de como seu filho havia desobedecido suas ordens por causa daquela jovem, e ainda, que agora ele se encontrava em um leito, recuperando-se da ferida causada pelo óleo quente que fora derramado em seu ombro, recusou-se a perdoar Psique. A deusa impôs, então, sobre ela uma série de tarefas que deveria realizar, tarefas tão difíceis que poderiam causar sua morte.

Primeiramente, deveria, antes do anoitecer, separar uma grande quantidade de grãos misturados de trigo, aveia, cevada, feijões e lentilhas. Psique ficou assustada diante de tanto trabalho, porém uma formiga que estava próxima a Psique ficou comovida com a tristeza da jovem e convocou seu exército a isolar cada uma das qualidades de grão.

No dia seguinte, Afrodite ordenou que fosse até as margens de um rio onde ovelhas de là dourada pastavam e trouxesse um pouco da lã de cada carneiro. Psique estava disposta a cruzar o rio quando ouviu um junco dizer que não atravessasse as águas do rio até que os carneiros se pusessem a descansar sob o sol quente, quando ela poderia aproveitar e cortar sua lã. De outro modo, seria atacada e morta pelos carneiros. Assim feito, Psique esperou até o sol ficar bem alto no horizonte, atravessou o rio e levou a Afrodite uma grande quantidade de lã dourada.

Ainda não satisfeita, Afrodite ordenou que ela fosse ao topo de uma alta montanha e trouxesse uma jarra cheia com um pouco da água escura que jorrava de seu cume. Dentre os perigos que Psique enfrentou, estava um dragão que guardava a fonte. Ela foi ajudada nessa tarefa por uma grande águia, que voou baixo próximo a fonte e encheu a jarra com a negra água.

Afrodite ficou muito irada com o sucesso da jovem, e planejou uma última, porém fatal, tarefa. Psique deveria descer ao mundo inferior, o Hades, e pedir a Perséfone, que lhe desse um pouco de sua própria beleza, que deveria guardar em uma caixa. Desesperada, subiu ao topo de uma elevada torre e quis atirar-se, para assim poder alcançar o Hades. A torre porém murmurrou instruções de como entrar em uma particular caverna e através dela descer aos Ínferos. Ensinou ainda como driblar os diversos perigos da jornada, como passar pelo cão Cérbero e recebeu uma moeda, para pagar a Caronte pela travessia do Estige.

"Quando Perséfone lhe der a caixa com sua beleza, toma o cuidado, maior que todas as outras coisas, de não olhar dentro da caixa, pois a beleza dos deuses não cabe a olhos mortais."

Seguindo essas palavras, conseguiu chegar até Perséfone, que estava sentada imponente em seu trono, e recebeu dela a caixa com o precioso tesouro. Tomada porém pela curiosidade em seu retorno, abriu a caixa para espiar, e ao invés de beleza havia apenas um sono terrível que dela se apossou. Eros, curado de sua ferida, voou ao socorro de Psique, e conseguiu colocar o sono novamente na caixa, assim salvando Psique.

Lembrou novamente à jovem que sua curiosidade havia novamente sido sua grande falta, mas que agora podia apresentar-se à Afrodite e cumprir a tarefa. Enquanto isso, Eros foi ao encontro de Zeus, e implorou a ele que apaziguasse Afrodite e ratificasse o seu casamento com Psique. O grande deus ordenou que Hermes conduzisse a jovem à assembléia dos deuses, e a ela foi oferecida uma taça de ambrosia. Então com toda a cerimônia, Eros casou-se com Psique, e no devido tempo nasceu seu filho, chamado Voluptas (Prazer).


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