quarta-feira, fevereiro 18, 2004

17.02.04 - Terça - Casa dos Avós - Parte I



Eu ia fazer uma advertência a quem fosse ler esse post mas não achei nenhuma apresentação boa o suficiente. Qualquer coisa aguçaria a curiosidade ou o interesse d qualquer um exceto pelo tamanho q pretendo dar a ele, q acredito q seja a única coisa q vá realmente peneirar quem vá lê-lo. Hoje já é madrugada do dia 18.02.04, mas eu estou aqui pra falar sobre o dia 17.02.04. Passei o dia todo sem grandes diversões numa casinha em Campo Grande. Uma casa q me lembra até uma poesia q escrevi sobre esse tipo d lar. Sabe o q me basta pra escrever um grande post sobre essa casa? A tristeza dela.

Vamos começar com o fragmento d uma poesia minha q eu ainda não terminei e não vou terminar tão cedo:

"...
Noite
A casa finge dormir
Mas eu sei q lá gritam incomodados todos os sonhos
por ser um lugar incompatível com tudo q eles podem prometer

e se d verdade alguém procurar entender esse lugar
verão q nada sobrou além das ruínas d um lar familiar
desde q essa casa foi concluída e passaram a habitá-la
pq a família q lá existia deixou a casa
com os pedreiros, mestre d obra, eletricistas... q a finalizaram
porque eles sabiam pra que uma casa deveria ser construída
e agora o q há no chão, após as paredes destruídas por arranhões,
são as unhas retorcidas das ilusões, agora raras
q não couberam naquela casa e foram deformadas
ficando com o rosto exato da tortura
q transforma os sorrisos em cortes horizontais
q acontecidos parecem dizer
“não me machuque mais”

E nos cômodos vazios são, talvez, onde haja mais vida
Nessa casa...
Nessa casa, na verdade, não mora ninguém
Porque ninguém quer estar lá
É uma casa onde as pessoas ressuscitam ao acordar
Ao voltar do minuto d paz após fugir dela pra seus respectivos mal lembrados mundos
É tudo muito particular

E assim até o ar parece desistir de seus narizes e bocas
E o q existe d mais próximo ao belo é a rejeição
Dorme marginalizado e maltrapilho num canto do chão
O avesso da solidão

E nessa casa eu não durmo
E sussurro consolos para as minhas esperanças
Pois elas se sentem ameaçadas uma vez q ouvem Tudo

E mesmo q fugissem d mim, por aquelas portas, todos os meus encantos
Ainda sim eu seria a mais feliz
Porque existe a opção d eu ir com eles
Enquanto os outros só iriam,
Pelas janelas do segundo andar...
Eles não vão, mas alguns desejam
Um empurrão do destino.
...”
(SuNamastê)


Não está bem escrita mas já passa o essencial da mensagem.

______________________________

Levanto cedo (5h), tendo acordado mais cedo ainda (4h – só 3 horas d sono!!) e vou fazer exame d sangue(7h:30). Já em casa (8:30), leio um livro (Escola de Mulheres – adorei a Inês!!) e depois durmo. Antes d eu dormir, minha Mãe me fala q tem algo pra me dizer.

E diz algo parecido com minha avó estar pior do q poderíamos imaginar!
Fiquei mais atenta ao q ela estava falando... Minha avó está com 5 câncer (1 em cada pulmão, 1 na garganta, 1 nas supra-renais e outro na coluna) e a qualquer hora pode acontecer o pior (ou melhor?).
Então ela me falou q minha avó olhou para o meu tio William e perguntou “Onde está o William?”.
Veio a minha cabeça alguém d costas pra mim em cima d uma corda bamba, em um fundo todo preto. Essa pessoa poderia cair para o lado da tristeza profunda (esquerdo) ou do autocontrole (direito). Ela bambeia para o lado esquerdo e acaba por cair do lado direito: eu não quero aquela tristeza! Foi um momento importante. Eu tomei uma decisão.
Mas minha Mãe não parou por aí... então a pessoa, na minha cabeça, subiu na corda d novo.

Concluímos isso: não temos absoluta certeza se o estado é o esperado devido ao câncer ou se é algum tipo d resposta a quimioterapia q ela fez. A quimioterapia não é um remédio igual dado pra todos q resolvem por esse tratamento, mas sim um medicamento com quantidades específicas d acordo com cada tipo de pessoa.
Considerando q o câncer tem 5 estágios d gravidade, minha avó já estaria no 4. Como foi rápido!!

Sabemos agora q minha avó mal anda. E minha mãe começa a se lembrar da minha avó quando mais nova, mais ativa e tomando conta da casa. Ela bonita e arrumada... um sorriso admirável... essas coisas q quem foi filha próxima deve ter notado bastante. Ela não contém as lágrimas... e eu controlada tentando consolá-la.

Quando deu 17:30 saímos de Seropédica e minha mãe me levou pra casa dos meus avós em Campo Grande.

Cheguei à casa dos meus avós. Aceitei bem a condição d ser a saúde do ambiente já q estava com disposição. Ao encarar a minha avó... vi q eu não fui boa o suficiente em imaginar seu rosto abatido pois sua natureza estava fazendo melhor. Sentei à mesa da cozinha com ela e fui mantendo uma conversa simples. Seus gestos, postura, fala... tudo prejudicado e eu ignorando e pensando “ela é uma pessoa normal”. Distraía-me com um caderno d poesia da minha mãe q eu tinha levado e às vezes mostrava umas figuras pra ela. Ela respondia a tudo normalmente.

Fui meio rude com meu avô... queria ouvir a minha avó pois só ela, conseguindo ou Não falar a verdade, é q poderia dizer se estava com dor ou não para depois eu dar algum remédio. Ele sempre a tentou calar o q me levou a não dar atenção pra ele nem agora, quando ele tinha um pouco mais d razão. Senti-me mal por isso depois...

Até q... acontece uma situação constrangedora! Eu não acreditei inicialmente no q estava vendo mas depois lembrei q não era momento d me chocar com nada. Eu estou controlada. Antes d começar a pôr tudo no lugar, encontrei meu tio no caminho e falei pra ele, agora rindo, o q tinha acontecido. Pus tudo em ordem após me controlar depois da segunda ânsia d vômito. Pedi mt ajuda a Deus e tudo deu certo.


Eu estava levando tudo mt a sério


Fiquei me sentindo suuuper mal por ter rido naquela hora! Quando eu fico nervosa isso é normal!! Depois d pôr a minha avó pra dormir, desci e fui falar com o meu tio. Só q eu Não sei mt bem como é a linguagem dele ou se ele acharia besteira tudo o q eu iria falar mas mesmo assim tentei. Falei q eu estava encarando as coisas d um modo diferente, pra não ficar triste, senão não poderia ajudar ninguém. Falei q não queria me chocar com nada e q não estava debochando da minha avó quando fui falar com ele. Primeiro ele pensou q eu estivesse dizendo pra ele q posição assumir diante da enfermidade da minha avó e me disse q uma coisa é vc passar pelo problema e outra coisa é vc viver perto dele. Concordei plenamente e retruquei dizendo q eu tinha dado uma explicação do porquê d eu ter rido e não tinha intenção nenhuma d dizer pra ele como agir. Tudo isso pacificamente. Eu via uma expressão diferente no rosto do meu tio. Ele não estava bem. Aqueles olhos vermelhos... Imagina: é a mãe dele!
Eu queria mesmo, mesmo, mesmo fazer alguma coisa por ele mas não sabia como! Um carinho conforta mt nessas horas mas a gente não tem intimidade nem pra isso... poderia parecer forçado e essa possibilidade me enoja!
Por isso q a responsabilidade é maior na hora d ajudar pessoas da família. São pessoas q vc não escolhe e q talvez, se não tivessem “o mesmo sangue” q vc, vc nem se aproximasse. Então, numa situação como a minha, eu queria fazer algo por ele, mas nunca tinha me interessado em conhecê-lo melhor pra saber o q fazer porque tb nunca achei q teríamos essa oportunidade. E eu não a desconsiderei, simplesmente nunca pensei nela. Vi um desafio a minha frente... e talvez tivesse entendido outra razão para ajudar aos amigos: eu escolho as horas em q quero estar com eles e não têm autoridade sobre mim, ou seja, é mais FÁCIL!
Fiquei imaginando tb q aquele tipo d situação poderia fazer com q meu tio me olhasse com novos olhos e visse q eu cresci. Idade pode ser pouco mas cabeça é tudo! E eu acho q ele ainda duvida da minha maturidade mas do q o q deve, digamos assim...


Voltei para o segundo andar onde minha avó supostamente dormia. Vê-la com tão pouca força subir aquelas escadas foi um terror!! Já pensou se ela perdesse as forças? Cairia em cima d mim porque eu tb não poderia deixá-la subir sozinha!! Hehehe
Sempre q eu entrava no quarto, minha cabeça transformava as primeiras imagens em cenas iniciais d um suposto momento em q eu poderia encontrá-la morta... logo afastava tal coisa da minha cabeça!! Eu estava controlada.
Ela ainda não tinha se deitado...

Desci de novo pra ficar um pouco mais d tempo acordada e não falei mais nada com o meu tio. Eu ainda tinha q estudar a situação.

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