quinta-feira, julho 16, 2009

¿Eu Vô...


Parte I : Experiência e decreptude


a) Questões:


Evolução não acontece só com o ganho (de asas, de polegares, de "luz" para o abissal), mas também com a perda. Já tivemos cauda (restando o cóccix como bela lembrança) e já vai indo embora nosso apêndice. Nessa passagem para o desaparecimento, ainda pode ocorrer alguma coisa que transforme estes vestígios em outro algo importante, de modo que nada vai tarde. Tudo é uma questão de Tempo!

Estava no pequeno quintal com meu avô, irmã e mãe. Levantei-me, fugi das farpas de nosso senhor. Quem diria que, depois, eu voltaria para um lugar completamente diferente naquela mesma hora!


Começava a se impor nosso senhor com a sua experiência de 8 décadas de vida sobre meus reles sonhos de 2 décadas! Isso porque dou sorte dele considerar que eu sonho desde 0 anos de idade! Hehehe Ou reduz a maturidade de 0 anos os meus sonhos de hoje? E a falar da decreptude de seu corpo! Sempre concordei com suas desvantagens e nunca concordei com suas conclusões! Sempre o deixei no lugar dos mais velhos que ensinam, mas é tão fato na minha vida que isso não é verdade!


A conclusão dele é de que deveria ter morrido aos 40. Por isso, deixou de viver outros 42 anos! A não ser que se mate, não querer viver acaba com a vida, mas não mata além disso. Meu conceito de bem viver é ser feliz e o raciocínio dele me parece, no mínimo, um caos sem chance pras estrelas! A questão que sobrevive é: como aprender o q ele ensina?


b) Argumentação:


Ao olhá-lo expondo mais uma vez as mesmas feridas, inconformadamente, ao se deter na decreptude que atravancava suas experiências atuais me veio à cabeça: “o lugar dele não tem que ser pior que o meu (como concordávamos há 1 milésimo de segundo atrás). É diferente”. Ele

“Mas esse corpo que não pode tanto, não pode do mesmo jeito, eu quero e ele não obedece”.

Evolução não é perder também? Não a evolução linear no sentido de que tudo acontece para o melhor e continuamos sendo a mesma espécie ou outra mais avançada... mas no sentido de que todas as diferenças dentro de uma “espécie de vida” podem produzir bens diversos. Bens não lineares, mas paralelos.


Envelhecer é uma evolução diferente da da juventude. O corpo muda. Não é o corpo que você tem que deixou as vontades da juventude falando sozinhas. É esse novo corpo que vc é que requer de vc q vc seja outro. Pode ser “essencialmente” o mesmo, mas há diferenças que te fazem um tanto outro. Pode-se, talvez, sentir-se enganado pela existência... “quanto mais eu cresço, ao invés de aprender como ser melhor numa vida só, tenho que aprender a ser melhor como jovem e, depois, quase como zerar, aprender a ser melhor de novo como velho”. Adianta dar-se conta dessas questões, porém, de que adianta estacionar nelas? Senão terá q formular outra melhor ainda: “quem eu processo: Deus ou a natureza?”. hehehe


Automaticamente a questão da experiência também fica vulnerável! Como sobrepor completamente a experiência de senhor a minha de jovem se minha juventude é diferente do que foi a sua? É fato que, como os senhores, envelhecerei também... Mas por que tudo q não foi realizado pelo senhor transforma meus planos em sonhos infantis? Aí paira o fantasma do conflito de gerações! É um conflito de realizações, na verdade. Se eu realizar o que antes não podia ou não pôde ser feito, é provável que as sensações de perda do envelhecimento aumentem. Com nosso vizinho de juventude isso já acontece só que, neste caso, ainda está “em tempo” e, no caso dos senhores, aquele tempo já passou. A nossa cultura gera esse tipo de idéia ingrata. Um tempo passou, mas outro tempo vigora. E a velhice vai se figurando, pouco a pouco, como um “nascer de novo”! Eu posso morrer amanhã tanto quanto quem se acha no fim da vida vive mais 40 anos.


Como num apelo, olhei para o meu senhor e perguntei, com cuidado (o tom de voz suave, as mãos falando com a linguagem de sinais tipo hieróglifos, olhos humildes, e só 2 décadas pra coordenar um corpo jovem inteiro!):

“se eu reconheço a sua experiência por que o senhor não reconhece a minha?”.

Assim, como a metralhadora q eu fui e tendo q dar nomes aos bois q ele não ousava nomear (mas já soltava no pasto hehehe) continuei

“não me sinto reconhecida pelo senhor e só te reconheço a distância por causa do conflito de gerações que nos impede d conversar”.

Era impressionante (ta, vai! Emocionante!) falar isso e sem ser interrompida!

“O senhor sofreu aquele acidente e isso mudou minha perspectiva de vida! Cortou o supercílio, quebrou uma clavícula e uma costela aos 81 anos, ficou confuso e hj parece novo, ou seja, eu posso viver muito! O senhor pode se isolar, mas isso não te garante deixar de existir, só que limita a sua vida.”

Tudo q ouvi, e significou MT pra mim, foi

“Vc não é mais a mesma.”

Era um momento denso porque:

- nós estávamos conversando

- eu estava refazendo meu conceito assustador de velhice de forma positiva

- e tentando mudar a vida dele também (pelo menos minhas pretensões têm coração! hehehe)


Minha proposta foi:

“A gente pode evoluir junto. Eu não vou me transformar por sua causa e nem vc por minha, mas podemos mudar um pouco pra melhor. Vc ta numa fase q eu não conheço e eu vivo uma idade q vc já teve num tempo diferente. A sua experiência pode ajudar meus sonhos a virarem planos e eu posso expandir seus horizontes”




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