terça-feira, julho 14, 2009

"Gosto de comparar o contexto institucional da nossa atuação ao nascimento do samba carioca, dança afro-brasileira de projeção internacional, referindo-me à lindas pesquisas de Carlos Sandroni10, que coloca duas perguntas: por que, no início do século XX, o novo modelo rítmico sofreu muitas dificuldades para impor-se na música escrita e gravada? Por que, quando conseguiu reconhecimento e divulgação, na década de 30, fez com tanta força e consenso?

A resposta à primeira pergunta refere-se a um triplo recalcamento, cognitivo (já que o modelo rítmico, de origem africana, contradizia os ritmos comêtricos (regulares) europeus, aos quais o ouvido acadêmico estava acostumado), social (já que os Negros eram dominados, marginalizados e desprezados em relação à “boa sociedade”), e estético (uma vez que esse ritmo estava claramente expondo sua condição de “música de Negros”). O que podemos chamar de incontestável “vitória afro-brasileira” foi como a afirmação de uma pedagogia, um pouco como se os músicos da Escola de Samba Estácio de Sá quisessem dizer: na cultura não escrita do povo afro-brasileiro existem tradições de batucada polirítmica, desenvolvidas na escola de samba, que não podem ser reduzidas ao maxixe bem educado, embranquecido, e eis aí nosso ritmo, nosso emblema: o samba. Para a Praça Onze desceu a alma sonora dos morros, e aos poucos vai compondo-se a aquarela do Brasil, a identidade musical multiracial do povo, onde o elemento africano desenvolve um papel de fundamental importância. Os pesquisadores da música sabem que as relações étnicas e sociais no Brasil foram de dominação, de confronto e resistência, e também de interação, aliança e compromisso entre diversos setores da sociedade. Durante 500 anos de convivência, as músicas miscigenaram-se, inclusive de modo polêmico, do mesmo modo que interferiram as relações culturais, sem que nunca se deixasse de lado a questão das forças motrizes do devir estético e social, dos elementos motores nas interações sociais que participam da definição das culturas. Ou seja, ao mesmo tempo, alianças e lutas pela dominação, no encontro dos modelos estéticos, culturais e políticos. Os músicos da Estácio de Sá educaram o Brasil inteiro, encontrando na forma institucional da escola de samba – o que implicava em compromissos com forças sociais não exatamente populares (bicheiros…) – o espaço institucional para essa educação. Queremos pensar a “episteme”, o modelo epistemológico, cultural e político da educação popular, a partir desse exemplo."

Fonte: http://www.fafich.ufmg.br/nesth/IIIseminario/texto5.pdf

Su: Depois q me peguei com o danado do samba nunca mais me separei! É recente mas é pra sempre! :0) A matéria só usou o samba como exemplo. É sobre educação.

Sem comentários: