terça-feira, julho 14, 2009

Concepção institucionalista de sociedade


“Em uma instituição pode-se distinguir duas vertentes: uma é a do instituído a outra do instituinte. (...) Há muitas instituições como a instituição da língua, ou das relações de parentesco e a da religião e a da divisão do trabalho (...) para que uma sociedade humana exista, tem de existir, como mínimo, essas quatro instituições humanas”


A humanidade é regida por estas instituições. O conjunto de instituições supõe uma civilização.


Em poucos momentos históricos se pode assistir ao nascimento de uma grande instituição. É mais fácil assistir os grandes momentos de revolução de uma instituição.


“Os momentos de transformação institucional (...) ou as forças que tendem a fundá-la são chamados (...) forças instituintes. (...)”


Característica dinâmica, é um processo.


“Em produto geram o instituído


Característica estática, é o resultado.


“Tem-se que evitar uma leitura do tipo maniqueísta, que pensa que o instituinte é bom e o instituído é ruim, embora seja verdade que o instituído apresente (...) uma tendência à resistência (...) Pelo contrário, o instituinte aparece como atividade revolucionária (...). Na realidade, não é exatamente assim porque o instituinte careceria completamente de sentido se não se (...) materializasse nos instituídos.

(...)

Os instituídos e organizados apresentam (...) freqüentemente funções a serviço da exploração, da dominação, da mistificação. E as manifestam de tal maneira que as fazem parecer “naturais”, desejáveis e eternas, ao passo que o instituinte e o organizante são sempre inspirados pela utopia (...) processos chamados de funcionamento.”


Então instituinte, organizante e funcionamento estão a serviço da produção enquanto que o instituído, o organizado e a função são sinônimos de reprodução (“tentativa de reiterar o igual, de perpetuar o que já existe, aquilo que não é operativo para acompanhar as transformações sociais”).


A questão é: “Como entender, como analisar cada instituição, cada organização, e como intervir para propiciar-lhes a ação do instituinte e do organizante?” Como intervir se o instituído instituinte, o organizado organizante trabalham juntos (o instituinte depende do instituído pra se materializar)?


“Essa interpenetração [trabalharem juntos] acontece (...) a favor da utopia (instituinte) e contra a utopia (instituído)”.


Tanto o já instituído vai influenciar nas novas atitudes quanto o instituinte revolucionário também poderá atuar (respectivamente: atravessamento e transversalidade.)


Ex.: Uma escola também prepara força de trabalho (alienado), ou seja, também é uma fábrica; mantêm os alunos presos de 6 à 8 horas por dia ensinando não só a escrever mas, inclusive, obedecer transmitindo-lhes um sistema de prêmios e punições, ou seja, é também um cárcere; transmite-lhes valores do que deve ser construído/destruído, também sendo um quartel. A nível do já instituído, a escola está atravessada por outras organizações, faz reproduções.


“Mas uma escola também é um âmbito onde se tem a ocasião de formar um agrupamento político-escolar, (...) também se pode aprender a lutar contra a exploração, a dominação, a mistificação.”


Uma escola também tem um lado instintuinte (interpretação chamada de transversalidade)


Instituído é reprodução, sua influência nas instituições chama-se atravessamento.

Instintuinte é produção, sua influência chama-se transversalidade. -> este é o modo de trabalho institucionalista:


“os efeitos da transversalidade caracterizam-se por criar dispositivos que não respeitem os limites das unidades organizacionais formalmente constituídas, gerando, assim, movimentos e montagens alternativos, marginais e até clandestinos às estruturas oficiais e consagradas.

(...)

Com isso temos definida, até certo ponto, qual é a concepção institucionalista da sociedade.”




Fonte: Compêndio de análise institucional e outras correntes: teoria e prática, Cap II "Sociedades e Instituições " / Gregório F. Baremblitt. - Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1992.

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