sexta-feira, março 05, 2004

27.02.04 - Sexta - Primeira visita a minha avó internada

Anotações:

Eu sabia q a visão dela ligada a um monte d aparelhos não seria agradável então já fui logo me preparando e pensando q aquela q eu veria não seria exatamente a minha avó mas o q resta dela aqui nesse mundo. Enquanto meu tio se negava a ver (pois queria guardar uma imagem boa) e meu avô se arrependia d ter visto, eu me toquei bastante com aquela cena e acabei chorando mas em momento nenhum desejei não ter estado ali.

Era uma experiência triste porém interessante. Eu acabava d entrar no mundo d milhões de pessoas q já passaram por isso e sentia agora o q ninguém poderia me contar. Mas eu não estava sofrendo. Cada novo sentimento chato q se abria como uma flor no meu peito desaparecia quando eu me dizia q aquilo não era tudo q eu tinha da minha avó. Fiz carinho na cabeça dela e outra corrente d energia passou pelo meu corpo como se quisesse me dar um choque quando vi q bastante d seu cabelo já estava na cama dela... mas o choque mal ficou.

Não era nada daquilo q eu queria pra minha avó e com suas própria manias ela tinha caminhado até ali... eram aqueles olhos perdidos e abertos e a tal língua pra fora, típica d uma pessoa sedada, como eu já citei em um post atrás...

Minha avó ali, tão ausente, e ainda sim Eu precisava vê-la e tentar estar com ela. Estar, d alguma forma, perto dela d novo. Testar minhas idéias e conceitos sobre corpo e espírito.
Um enfermeiro até bonitinho, q veio ajeitar o soro da minha "vó", ainda parou pra me dar atenção quando comentei com ele q devia ser um saco ver gente ali na UPG (Unidade d Pacientes Graves, como se fosse CTI) chorando o tempo todo. Então, com uma carinha super cansada, ele me falou q eles sabiam q a situação era triste e q entendiam; os q entendiam principalmente eram aqueles q estavam passando por situação semelhante. Assim, após dizer q estava fazendo plantão, falou q recebera seu pai na noite anterior, naquela mesma unidade, pois ele estava com problema no coração. Depois, pouco antes d se retirar, falou sobre confiar em Deus e um outro clichezinho q eu realmente adoro q é mais ou menos assim “se o q vc vê não é um final feliz, então é porque a história ainda não chegou ao fim”. A primeira vez q ouvi isso foi há uns 2 anos atrás em um filme onde os atores principais eram gêmeos xifópagos. O nome do filme era algo parecido com “amor em dobro”... qualquer coisa a ver com duplo...

Meu avô entrou primeiro q eu para ver minha avó. Enquanto eu esperava meu avô sair, uma mulher idosa, sem metade da perna, numa cadeira d rodas e q toda hora reclamava q queria ir embora, olhou para meu rosto vermelho e já seco das lágrimas porém ainda com todos os vestígios delas. Quando olhei para ela por saber q me olhava, ela fez sinal pondo uma das mãos nos olhos e falou para eu não chorar e com essa atitude bem “vó”... claro q não agüentei!! As lágrimas foram espontâneas pois ela lembrou mt a minha avó... Não regredi em nenhum dos meus conceitos ou me revoltei... mas fiquei sentida. Não consegui mais encarar a tal mulher... queria falar pra ela q foi legal ter aquela atenção (apesar d não ter me feito mt bem) mas acabei perdendo a oportunidade. E sabe-se lá tb se eu conseguiria falar qualquer coisa depois q aqueles olhos me encarassem d novo!!

Meu avô chorando! Como eu queria ver essa cena! D forma nenhuma queria vê-lo sofrer mas eu tinha curiosidade em saber como seria o meu avô chorando, num momento d fragilidade, guarda baixa depois d ser tão duro em certas horas e desnecessariamente rígido em outras! Foi meio desconfortável pra mim no início mas eu consegui abraça-lo e consola-lo... e ficou natural... Já não queria mas sentir e ouvir aqueles soluços d quem tenta conter a emoção e engole metade do choro... era mais uma pessoa q eu queria q soubesse q não estava sozinha!!

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