quinta-feira, maio 03, 2012

Txt de Daniel Caetano sobre o filme Terra em Transe, de Glauber Rocha: "tanta violência, mas tanta ternura"


Txt de Daniel Caetano sobre o filme Terra em Transe, de Glauber Rocha:
http://www.contracampo.com.br/27/terraemtranse.htm

______________________________________

Parte do poema que inspirou o filme:
...
"Não conseguiu firmar o nobre pacto
Entre o cosmo sangrento e a alma pura
--------------
Gladiador defunto, mas intacto
(Tanta violência, mas tanta ternura)"

(Mário Faustino)




" 'Todos somos simpáticos, desde que ninguém nos ameace'

"Cinema Novo? O intelectual muda o mundo? Todo mundo dizia que "cinema novo é Glauber Rocha no Rio de Janeiro".
(...)

"Lembrando o intelectual interpretado por Paulo Goulart em Rio Zona Norte, já dá para notar a descrença que o cinema daquela época tinha na ação dos "sábios"
(...)

"Paulo Martins é um poeta que trabalha como jornalista e "ghost-writer" de políticos, um sujeito que, com suas ambições poéticas, pretende conciliar a ética e a estética. Quer ser poeta, mas quer falar de temas... políticos! [SuN: importante!]
(...)

"a despeito de seu temperamento impetuoso e das pequenas maldades que comete, permanece ligado aos seus ideais até o fim, até o ponto em que for necessário. Parece que todo o filme se sintetiza na percepção amarga de Sara: "A política e a poesia são demais para um só homem". Paulo Martins diz ter "A fome do absoluto", busca até o fim conciliar os extremos [SuN: Luta nossa de cada dia!]
(...)

"Dom Porfirio Diaz é um inimigo odiado e admirado (...) totalmente fascista. (...) Foi radical de esquerda na juventude, e agora seu discurso é pela família e por Deus.

"Felipe Vieira é o aliado-símbolo, o líder político que acaba por se mostrar frágil, covarde, populista, ineficiente. É o fascínio pelo papel desempenhado por João Goulart, o líder que não existiu.
(...)

"Diaz nos informa, zombeteiro, que a luta de classes existe, e pergunta a cada um da platéia, você sabe a que classe pertence?

"O que é mais triste, a sordidez do projeto elitista e autoritário? Ou a fragilidade mentirosa do projeto populista? Vieira vai ao populacho, abraça todo mundo e não resolve nada [Su: questões fortes!]
(...)

"E o povo? O povo é representado por José Marinho, numa cena famosa e antológica, em que ele, presidente de sindicato, é instado a se manifestar, e inicia um discurso óbvio e despreparado. É interrompido por um irritado Paulo, que nos diz:

" 'Este é o povo: Um imbecil, um analfabeto, um despolitizado'. [Su: Chocante! "Quem" é o povo?]
(...)

"Talvez seja um filme ultrapassado nos dias de hoje. Alguém acha isso?

O que pode querer dizer "datado"? Sim, acho que Terra em Transe é datado, é um filme que surge de seu momento, que não poderia existir nem antes nem depois. E isso só o torna mais significativo, mas não anula qualquer uma das suas questões ou obscurece qualquer que seja das suas imensas qualidades.
(...)

"Alguns filmes nos dão imenso prazer (...) Mas há os casos em que um filme balança nossa cabeça e muda o norte de nossa vida"

Sem comentários: