sexta-feira, maio 11, 2012

Não esqueça de anteontem - SuN



Não esqueça de anteontem

Quantas vezes acreditou não chorar por prender o choro? Certamente foi preciso uma manobra mental engenhosíssima pra não molhar a roupa. Orgulho intacto, coração dilacerado e uma história pra não se tocar mais tão cedo! Até que os dias entre uma história e outra vão ficando cada vez mais apertados! E não é q a galinha realmente enche o papo? (Cospe isso, ave besta!)

O sentimento não é material então o choro não se mede contando as lágrimas. Eis q arrebenta-se a represa num esforço enorme de ser forte. É q a força escapa! O caminho parece inundado. Chove só no seu quarto. Os guarda-chuvas pendurados no teto de cabeça pra baixo. Vc, no meio do prado, um raciocínio inteiro pra manter, a pele arrumada pro encontro como as roupas vão bem nas gavetas e o olho resolve se molhar como se o choro tivesse só naquela ponta do corpo!

O rosto foge a mirada do outro numa tentativa íntima de manter a disciplina. É q homem não chora... mulher também não.  Água vira fraqueza e maturidade, confusão! Não, não, não. Retarda, mas é uma questão de tempo. As paredes a cercam ali. Fim: os olhos do outro chegaram. Acabaria aí. Vc já tinha tudo que não queria. Era tudo q tinha.

Ele dá um abraço nela. Por fora bonito e por dentro um estrago: “não me abraça. Não quero me sentir frágil.” Era como se aquele circuito em volta dela interrompesse o fio d seu pensamento. Para além do q se espera, lá onde todos ficamos quando viramos uma ilha, solitários dentro de nossas próprias cabeças, ele, com um silêncio mais forte q a palavra, leva a cabeça ao colo dela. Fim do abraço q ele dava, colo dela que se dá. Era como se ele perguntasse “E agora?”.

A audácia da sensibilidade. Não se esqueça desse dia.

SuN
10.05.2012
08:01
“Frágeis nunca seremos impotentes” Luiz Antônio Baptista



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