O "agarrador"
Interessante ver como Holden resiste ao mundo em que vive. Isto é: não há mais volta.
"- Você conhece aquela cantiga: 'Se alguém agarra alguém atravessando o campo de centeio'? Eu queria....
- A cantiga é 'Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio'! - ela disse. - É dum poema do Robert Burns.
- Eu sei que é dum poema do Robert Burns.
Mas ela tinha razão. É mesmo 'Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio'. Mas eu não sabia direito.
- Pensei que era 'Se alguém agarra alguém' - falei. - Seja lá como for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto - quer dizer, ninguém grande - a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto.
Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice."
Isto aqui, creio, responde a pergunta, duas páginas atrás, de Phoebe: "Então me diz uma coisa de que você goste."
O fato dele não querer que as outras crianças entrem no mundo adulto - caiam no abismo - reflete toda sua fragilidade: ele entrou, viu o mundo e não gostou. Daí sua atitude de apanhador e seus pensamentos ("isto me deprime") acerca do que está, para ele, errado.
A solução, a meu ver, está na carta que Hélio Pellegrino escreveu para Fernando Sabino - e que abre o romance "O Encontro Marcado":
"(...) nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio. Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo na sua libérrima existência, é respeitá-lo na sua total e gratuita inutilidade.(...) Este é o preço do encontro".
A poesia de Burns, segundo Phoebe, é: encontrar e não agarrar.
Faz todo o sentido.
Todos pagamos o preço; uns conscientes, outros rebeldes..."a hora do encontro é também despedida".
Gabriel
Interessante ver como Holden resiste ao mundo em que vive. Isto é: não há mais volta.
"- Você conhece aquela cantiga: 'Se alguém agarra alguém atravessando o campo de centeio'? Eu queria....
- A cantiga é 'Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio'! - ela disse. - É dum poema do Robert Burns.
- Eu sei que é dum poema do Robert Burns.
Mas ela tinha razão. É mesmo 'Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio'. Mas eu não sabia direito.
- Pensei que era 'Se alguém agarra alguém' - falei. - Seja lá como for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto - quer dizer, ninguém grande - a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto.
Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice."
Isto aqui, creio, responde a pergunta, duas páginas atrás, de Phoebe: "Então me diz uma coisa de que você goste."
O fato dele não querer que as outras crianças entrem no mundo adulto - caiam no abismo - reflete toda sua fragilidade: ele entrou, viu o mundo e não gostou. Daí sua atitude de apanhador e seus pensamentos ("isto me deprime") acerca do que está, para ele, errado.
A solução, a meu ver, está na carta que Hélio Pellegrino escreveu para Fernando Sabino - e que abre o romance "O Encontro Marcado":
"(...) nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio. Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo na sua libérrima existência, é respeitá-lo na sua total e gratuita inutilidade.(...) Este é o preço do encontro".
A poesia de Burns, segundo Phoebe, é: encontrar e não agarrar.
Faz todo o sentido.
Todos pagamos o preço; uns conscientes, outros rebeldes..."a hora do encontro é também despedida".
Gabriel
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