sábado, janeiro 26, 2008

O Supremo Castigo
Em todos os aeródromos, em todos os estádios, no ponto principal de todas as metrópoles, existe - e quem é que não viu? - aquele cartaz... De modo que, se esta civilização desaparecer e seus dispersos e bárbaros sobreviventes tiverem de recomeçar tudo desde o princípio - até que um dia também tenham seuspróprios arqueólogos - estes hão de sempre encontrar, nos mais diversos pontos do mundo inteiro, aquela mesma palavra. E pensarão que Coca-Cola era o nome do nosso Deus!

Mário Quintana

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O Achado
Vera estava visitando um protético quando, repentinamente, entrou pela sala, com uma dentadura articualda que havia descoberto numa prateleira, gritando:
- Titia! Titia! Encontrei uma risada.
(BLOCH, Pedro. Criança diz cada uma!. Rio de Janeiro, Ediouro, s/d. p.112.)

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Mensagem referencial:
As folhas da árvore,
movimentadas pela brisa,
produzem sons.

Mensagem poética:
Na tarde quente
as folhas aplaudindo
a brisa fresca
(PINTO, Gustavo Alberto C. Relâmpagos. São Paulo, Massa Ohno, 1990. s/p.)

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Escrever nem uma coisa
Nem outra -
A fim de dizer todas -
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.
(Manoel de Barros)

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Brasília: esplendor

Brasília é uma cidade abstrata. E Não há como concretizá-la. É uma cidade redonda e sem esquinas. Também não tem botequim pra gente tomar um cafezinho. É verdade, juro que não vi esquinas. Em Brasília não existe cotidiano. A catedral pede a Deus. São duas mãos abertas para receber. Mas Niemeyer é um irônico: ele ironizou a vida. Ela é sagrada. Brasília não admite diminutivo. Brasília é uma piada estritamente perfeita e sem erros. (...) Brasília é um futuro que aconteceu no passado.
(LISPECTOR, Clarice. Para não esquecer. São Paulo, Ática, 1979. p.37)

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A Mariposa

A mariposa quando chega o frio
Fica dando vorta em vorta da lâmpida pra si isquentá
Elas roda, roda, roda, dispois se senta
Em cima do prato da lâmpida pra discansá

Eu sou a lâmpida
E as muié é as mariposa
Que fica dando vorta em vorta de mim
Todas as noites, só pra mi beijá.

- Boa noite, lâmpida!
- Boa noite, mariposa!
- Pelmita-me oscular-lhe as alfácias?
- Pois não, mas rápido porque daqui a pouco eles mi apaga.
(Adoniran Barbosa)

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