segunda-feira, agosto 11, 2008

Klockwork Kubrick
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Até que alguém que pelas suas características foi diagnosticado como portador de autismo de alto desempenho, Kubrick se saiu muitíssimo bem.
Genial,o diretor tinha a seguinte teoria: repetir os takes exaustivamente, até obter o resultado pretendido. Apesar de parecer um ato aparentemente frio e desumano, os resultados com a atriz Shelley Duvall em O Iluminado parecem ter funcionado. Após mais de 100 takes (um recorde) os gritos de desespero da atriz na cena "Here is Johnny" pareciam reais. Talvez por que fossem reais.
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Da cinebiografia de Kubrick, adoro todos em maior ou menor escala, sendo que "Laranja Mecânica" é a menina dos olhos. Sempre julgado pela violência exacerbada, tudo ali tem uma razão de ser, inclusive a violência. Alias, Kubrick prima pela técnica impecável mesmo quando exagera.
Mesmo quando misturava diversas técnicas, ele criava o ambiente que queria da maneira que desejava. Seus cenários tem cores sempre extravagantes, poucos objetos de cena, chão brilhando, luzes estourando nas paredes e tetos, tudo tem uma perfeita sintonia com o mundo em questão. Aliás, essa característica não se diz somente à "Laranja Mecânica", e sim a todos os filmes de Kubrick, até mesmo Spartacus!


No filme Alex (a-lex, sem-lex, sem-lei) interpretado brilhantemente por Malcolm MacDowell é o protagonista narrador de nossa história, nosso herói pós-moderno, onde a ultraviolência é o ideal da violência estetizada, violência transformada em espetáculo, em show, em objeto de consumo. Violência industrial, objetivada e despersonalizada.



Alex deliberadamente agride e transgride essa segurança social como forma de afirmação de sua liberdade individual e o meio que encontrou para isso é destruindo as possibilidades de segurança da sociedade.



Se na violência passional há um sujeito que violenta um objeto de violação, isso já não existe quando a destruição se torna bem de consumo. Não importa mais quem sofre ou quem faz sofrer, muito menos o porquê do sofrimento. Agora é o próprio sofrimento, e unicamente ele, o sujeito, o objeto e a finalidade da violência.
Alex é preso. Concorda-se que Alex merece ser punido. Esse tratamento promete retirar de Alex a sua violência extremada.



É aí que a violência se inverte e o tratamento o torna enfim um indivíduo cujos instintos e vontades se encontram subjugados ao condicionamento social. Ser desprezível e sem importância, privado de qualquer espécie de prazer, Alex é agora uma laranja mecânica. Estava, agora, tão desumanizado quanto antes.



Se outrora o personagem não poderia ser considerado plenamente humano porque não era cúmplice do código social, agora ele é igualmente desumano, porque não pode ser senhor de si mesmo, não pode gozar de seus instintos.
A genialidade do filme está aí, na inversão dos valores, no enquadramento de Alex pelo Tratamento Ludovico e o questionamento que fica é: Não estamos nós permanentemente sob um Tratamento Ludovico? Não é essa a função das instituições sociais como a Religião, a Família, a Escola e a Moral em si? Não estamos cada vez mais condicionados àquilo que se prevê como correto e bom? Não estamos mergulhados num sistema de dogmas e preconceitos que regem nossos julgamentos?
Enfim, é genial.
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Stanley Kubrick
Nova Iorque, 26 de julho de 1928 — Hertfordshire, 7 de março de 1999.
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fonte: Literatus

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